Título: DEUS SALVE O SUBSÍDIO!
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 24/03/2005, Economia, p. 20

Família real britânica tem área agrícola beneficiada

LONDRES. A lista de privilégios da rainha Elizabeth II e do príncipe Charles é maior do que se imaginava: segundo um levantamento feito pelo governo britânico a pedido do jornal ¿The Guardian¿ e da ONG Oxfam, a soberana do Reino Unido e o herdeiro do trono estão entre alguns dos ricos proprietários de terra do país que receberam o grosso dos subsídios estatais à agricultura, cujo total chegou a quase US$6 bilhões nos últimos dois anos. Embora a ajuda recebida pela família real tenha sido pequena se comparada com a de outros privilegiados britânicos, causou espanto saber que Elizabeth II, dona de uma fortuna avaliada em US$5,4 bilhões, ganhou pelo menos US$1,5 milhão em subsídios para sua fazenda na região de Norfolk, ao passo que o príncipe contou com cerca de US$600 mil.

Na relação, divulgada ontem, consta que 17 grandes proprietários ou empresas tiveram acesso a mais de US$2 milhões em subsídios cada, incluindo os famigerados incentivos à exportação, contra os quais os países em desenvolvimento lutam tanto nas rodadas de negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Só uma empresa, a Tate & Lyle, que opera no mercado de açúcar, recebeu mais de US$450 milhões entre 2003 e 2004. Mesmo a poderosa multinacional Nestlé teve direito a cerca de US$40 milhões no período. Os dados derrubam um dos principais argumentos dos defensores dos subsídios: o de que eles são um mecanismo de proteção a pequenos e médios produtores.

¿ Não sei o que é pior: saber que o dinheiro do contribuinte está sendo usado para aumentar fortunas ou para aumentar ainda mais as injustiças com produtores em países do Terceiro Mundo. Esses subsídios são um incentivo à superprodução ¿ criticou Amy Barry, diretor de comunicações da Oxfam, em entrevista ao GLOBO.