Título: DESEMPREGO AUMENTA DE NOVO, MAS RENDA REAGE
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 24/03/2005, Economia, p. 21

Mercado de trabalho dá sinais de melhora: vagas com carteira assinada crescem 5,9%, no maior avanço desde 2002

A taxa de desemprego subiu em fevereiro pelo segundo mês seguido, mas o mercado de trabalho brasileiro começa a mostrar sinais mais fortes de recuperação, com alta de 2,6% no rendimento, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE. A taxa de desocupação, que atingira 10,2% da força de trabalho em janeiro, subiu para 10,6% em fevereiro, num comportamento já esperado no início do ano. As contratações temporárias para atender ao movimento de Natal deram lugar a demissões: em fevereiro, 68 mil pessoas perderam o emprego. Além disso, cresceu a procura por uma vaga depois das festas natalinas e do carnaval, fazendo a taxa de desemprego subir.

¿ Essa alta do desemprego é sazonal e foi puxada principalmente pelo Rio de Janeiro, onde a procura cresceu 15,1%. A dispensa dos temporários, que acontece com mais força em janeiro, foi adiada para fevereiro no Rio, por causa do carnaval ¿ explicou o gerente da pesquisa, Cimar Pereira.

Na contramão desse movimento, a ocupação de mais qualidade ganhou espaço no mês passado. O emprego com carteira assinada cresceu 1,5% na comparação com janeiro e 5,9% contra fevereiro de 2004, na maior expansão já registrada desde o início da pesquisa em março de 2002.

Ipea: massa salarial teve um crescimento de 6,9%

Enquanto as vagas formais abertas em um ano somaram 438 mil, a informalidade (somando os sem carteira com os que trabalham por conta própria) praticamente estacionou:

¿ No mesmo período, o número de informais aumentou apenas 38 mil ¿ afirmou Márcio Ferrari, técnico do IBGE.

Com essa melhora no emprego formal, que paga salários mais altos, o rendimento reagiu. O salário aumentou 1% frente a janeiro, e 2,6% em relação ao ano passado, chegando à média de R$932,90.

¿ Além de o desemprego estar menor que em 2004 (nessa época atingiu 12%), houve uma melhora qualitativa. Mais de 80% das ocupações criadas foram protegidas, com carteira assinada ou estatutária ¿ disse o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo de Ávila.

Nas contas do economista, a massa salarial (a soma dos rendimentos) continua em expansão pelo décimo mês seguido. Em janeiro (último dado disponível), contra o mesmo mês de 2004, a alta foi de 6,9%:

¿ Não houve um reflexo intenso da alta dos juros (que subiram de 16% ao ano em agosto para 19,25% em março) no mercado de trabalho. O crescimento contínuo da massa salarial e o do crédito estão suavizando os efeitos da política monetária.

Trabalhador com mais estudo obtém espaço maior

Pereira, gerente da PME, diante da melhoria do mercado de trabalho, acredita que o desemprego caia ainda no primeiro semestre, mais cedo do que ocorre tradicionalmente:

¿ Talvez esse movimento aconteça mais cedo.

A pesquisa também constatou que os trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo aumentaram sua participação no mercado. Em fevereiro eram 50,3% dos ocupados, na maior taxa já alcançada na pesquisa. Entre os desempregados, também são maioria: 46,2%.