Título: CHÁVEZ DIVIDE RUMSFELD E ALENCAR
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/03/2005, O Mundo, p. 26

Secretário critica iniciativa armamentista da Venezuela mas não recebe apoio do vice brasileiro

Em visita a Brasília, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, criticou ontem a decisão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de comprar cem mil fuzis AK-47 da Rússia. Em entrevista ao lado do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, Rumsfeld demonstrou preocupação com a iniciativa armamentista de Chávez, mas não obteve apoio do brasileiro: Alencar deixou claro que não endossava as críticas do secretário americano.

¿ Não consigo imaginar por que a Venezuela precisaria de cem mil AK-47 ¿ disse Rumsfeld. ¿ Apenas espero que isso não aconteça. Não posso imaginar, se isso acontecer, que será bom para o continente.

Alencar, entretanto, defendeu a não-intromissão em assuntos internos de outros países. A posição anti-Chávez do governo americano é conhecida, mas o vice-presidente se manteve alinhado com Lula, que cultiva uma amizade com o líder venezuelano. Para ele, não cabe ao governo brasileiro opinar sobre a renovação do arsenal venezuelano.

¿ O Brasil sempre defendeu e continuará defendendo a autodeterminação de diferentes povos e a não-intervenção nas relações entre outros países. Obviamente, aqui no Brasil, que é um país historicamente pacífico, gostaríamos de estreitar nossas relações diplomáticas e mercantis com outros países, com o objetivo de atingir o bem comum ¿ disse o vice.

Alencar também condenou a atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Disse que, embora não tenha opinião definitiva sobre a questão, não concorda com os métodos de arrecadação financeira do grupo guerrilheiro. Não respondeu, porém, se considera as Farc um grupo terrorista, como querem os EUA.

Protesto faz secretário sair pela porta dos fundos

Assessores de Alencar consideram exagerada a preocupação do governo americano com Chávez. Alencar e Rumsfeld trataram do tema também na conversa reservada que tiveram antes da coletiva. Depois do encontro, o secretário americano esteve com Lula no Palácio do Planalto. Na reunião, elogiou a atuação do Brasil na missão de paz no Haiti. Momentos antes, na entrevista com o vice, não respondera, porém, se o esforço brasileiro no Haiti credencia o Brasil a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Mas lembrou os serviços prestados pelo embaixador Sergio Vieira de Mello, morto num atentado em 2003, quando chefiava a missão das Nações Unidas em Bagdá.

Rumsfeld veio ao Brasil com o objetivo de abrir caminho para negociações que o governo brasileiro deverá fazer para comprar radares para o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Quer que o governo dê preferência a empresas americanas. No início da tarde, ele seguiu para Manaus, onde visitou a sede do Sivam. O sistema foi instalado a partir de uma licitação vencida pela Raytheon, empresa americana. Agora, o secretário espera que o governo brasileiro compre nos EUA equipamentos adicionais.

Um grupo de cerca de 30 estudantes, sindicalistas e ativistas ambientais obrigou o secretário a sair pela porta dos fundos do prédio do Sivam. Eles protestavam contra a política externa americana. Rumsfeld não viu a manifestação, mas seguiu a recomendação dos seguranças e saiu pela porta de trás. Passou uma hora na capital do Amazonas.

COLABOROU:Gerson Severo Dantas, de Manaus