Título: CLASSE MÉDIA ESTÁ COMPRANDO MAIS
Autor: Luciana Casemiro
Fonte: O Globo, 27/03/2005, Morar bem, p. 1

Número de contratos cresceu 82% na CEF e 26% no setor privado. Mas ainda é pouco

Écerto que o número de financiamentos individuais para a classe média via Caixa Econômica Federal (CEF), a famosa Carta de Crédito Caixa, cresceu, e muito, nos dois primeiros meses do ano no Estado do Rio: 82% em número de empréstimos e 104% em valores concedidos, na comparação com o mesmo período de 2004. Nos bancos privados, os financiamentos também registraram alta, em menor escala, é verdade: 26,6%, em relação ao número de unidades financiadas, e 34%, em recursos. Esses dados reforçam o cenário otimista desenhado para o setor este ano, mas não são suficientes para comemorações. É que, traduzidos em quantidade de financiamentos, o número ainda é bem pequeno.

A CEF concedeu, no primeiro bimestre deste ano, 520 créditos no estado, sendo 70% concentrados na capital, num total de R$34,840 milhões. Já os bancos privados financiaram 4.003 unidades diretamente para o mutuário, no país, investindo R$ 292,5 milhões. Números que, segundo as imobiliárias, não chegam a ter impacto no mercado.

Bancos privados temem retração

¿ O mercado de compra e venda anda a passos lentos. Para o Rio, 520 é muito pouco ¿ ressalta Manoel Maia, diretor do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi/RJ).

O superintendente da Caixa Econômica, no Rio, José Domingos Vargas, entretanto, está otimista:

¿ Pelo contrário, qualquer análise preliminar que se faça deve ser positiva. Os números até agora nos dão mais confiança de que este será um ano de ouro.

Domingos admite, no entanto, que o número de financiamentos ainda é insuficiente:

¿ Reconhecemos que precisamos acelerar o ritmo.

Já o presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, acredita numa possível retração de demanda, no próximo trimestre, devido à alta das taxas de juros e ao aumento dos índices de desemprego:

¿ Os compradores precisam se sentir seguros para investir em um imóvel, principalmente no que diz respeito a seus empregos.

Na CEF, 85% para compra de usados

Já na avaliação do superintendente da CEF, o crescimento dos empréstimos foi justamente reflexo da melhora da economia. No caso específico da Carta de Crédito Caixa, diz Domingos, os percentuais confirmam que o banco acertou nas mudanças que promoveu em suas linhas de crédito, no ano passado, ampliando prazos e percentuais de crédito e reduzindo juros.

Esses novos mutuários da Caixa têm renda familiar de R$7.320 e tomaram um financiamento médio de R$68 mil, que foi investido em 85% dos casos na compra de imóveis usados. Já nos créditos concedidos pelos bancos privados, a proporção é diferente: 50% para imóveis usados e 50% para novos, recém-construídos, segundo a Abecip. Neste caso, chama atenção o aumento do valor médio dos financiamentos que, em 2004, ficou em R$55,7 mil e, no início deste ano, pulou para R$73 mil.

¿ Trata-se do aumento da renda, que fez com que os compradores partissem para um imóvel melhor. Por outro lado, o aumento do percentual de financiamento, concedido pelos bancos, também ajudou ¿ avalia Tenerello.

O presidente da Abecip acredita que em abril, finalmente, chegarão ao mercado as novas linhas de crédito combinadas com o governo federal no início do ano: juros mais baixos e maior percentual de financiamento como contrapartida à redução do total de recursos da poupança que têm de ser aplicado em casa própria.

¿ O Bradesco, por exemplo, ainda não lançou suas novas linhas por causa de problemas operacionais com o site. Acredito que outros bancos estejam enfrentando dificuldades parecidas ¿ comenta Tenerello, que também é vice-presidente do Bradesco.

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