Título: PT negocia 2006
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 28/03/2005, O Globo, p. 2

O PT está investindo na formação de uma grande coligação para apoiar a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As conversas não se restringem ao PMDB. O presidente do PT, José Genoino, já deu início aos entendimentos com PTB e PSB. Os contatos estão sendo feitos com cautela e discrição, porque os petistas não querem antecipar a sucessão.

Nas próximas semanas, Genoino vai se reunir com os ministros petistas, que são líderes regionais e potenciais candidatos aos governos estaduais, para fazer uma avaliação inicial da possibilidade de reproduzir nos estados a aliança nacional que se fará para apoiar Lula. O presidente da República, em mais de uma oportunidade, sugeriu que o partido abra mão da cabeça da chapa em favor dos aliados em diversos estados. Mas para que isso ocorra Genoino considera que é preciso conversar muito com o próprio PT, onde há muita resistência às composições diante da prática de lançar candidaturas, mesmo que apenas para marcar posição, adotada nos 25 anos de sua existência. A política de alianças será um dos temas relevantes das eleições diretas dos dirigentes do PT, processo que vai de maio a setembro.

¿ Estas conversas são feitas com cautela e discrição. Não queremos atropelar o debate interno do PT, nem prejudicar o governo. A agenda do governo não é a eleição. Não queremos precipitar 2006, mas precisamos dar sinais para os aliados ¿ diz Genoino.

A construção desta frente será um trabalho coletivo que envolverá o presidente Lula, Genoino, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, os ministros e governadores petistas, além de aliados como os ministros Aldo Rebelo (PCdoB) e Eduardo Campos (PSB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e governadores. Neste momento, os petistas têm como principal preocupação, de acordo com Genoino, criar uma relação de sinceridade com os aliados. Com estas conversas, petistas e aliados querem mapear antecipadamente onde poderão fazer alianças já no primeiro turno e em que lugares o PT não terá candidato. Os petistas não querem repetir erros que levaram o partido ao isolamento em algumas capitais, nas eleições municipais, e que propiciaram a criação de frentes contra seus candidatos.

A estratégia do presidente Lula, ao articular a formação de uma ampla coligação de apoio à sua candidatura à reeleição, é isolar os partidos de oposição.

O ex-líder do PPS Júlio Delgado (MG) foi excluído das inserções regionais publicitárias na TV. O espaço foi usado para promover o candidato que quer sua vaga na Câmara.

Não é fácil nem para o presidente Lula

Nomear no governo Lula é tarefa difícil. Nem o presidente da República consegue que suas ordens sejam obedecidas. Os petistas seguram as substituições o quanto podem. Na terça-feira passada foi nomeado para a presidência do Instituto de Resseguros (IRB) Luiz Apolônio Neto. A indicação tinha sido feita há um ano e meio pelo PTB.

Desde novembro, quando participou de jantar na casa do ex-ministro Amir Lando, que o senador José Maranhão (PMDB-PB) espera que o ex-prefeito Augusto Bezerra seja nomeado para uma diretoria do Banco do Nordeste (BNB). Lula garantiu a nomeação: ¿Sai um companheiro, entra outro. O cargo é de vocês¿. Mas até agora nada.

No Espírito Santo, em fevereiro, quando Lula e o governador Paulo Hartung tratavam de acerto anterior para nomear Vitor Martins para uma vaga de conselheiro na Agência Nacional de Petróleo (ANP), o presidente perguntou para a ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, se estava tudo certo. ¿Não!¿, foi a resposta da ministra. A nomeação ainda não saiu.

Frente sindical

As duas principais tendências do PT, a Articulação e a Democracia Socialista, estão debatendo a adoção de uma tática comum para aprovar a reforma sindical no Congresso. A aprovação desta reforma vai dividir a base. A CUT já está rachada. Há resistências em diversos partidos à proposta do governo. A principal organização de lobby dos sindicatos de trabalhadores, o Diap, é contra a reforma proposta.

O BAIXO clero tomou conta das reuniões para discutir a pauta de votações. Ocorrem verdadeiras assembléias na presidência da Câmara, nas quais os líderes dos partidos não têm lugar para se sentar à mesa de reuniões. Irritados com o descaso, os líderes exigiram do presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), que eles tenham lugares marcados para participar das reuniões. O baixo clero vai ficar de pé.

NA CONVENÇÃO do PDT, seu presidente, Carlos Lupi, lançou a candidatura do deputado Alceu Collares (RS) à Presidência da República.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Arquivado

O Ministério da Coordenação Política encerrou a sindicância contra o ex-chefe da assuntos parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz. Não foram encontradas provas de irregularidades no exercício de suas funções relativas à Casa Civil. O ministro Aldo Rebelo assinou o encerramento da sindicância em 14 de março, quando a maioria das previsões era de que ele perderia o cargo na reforma ministerial.