Título: PIB DEVE CRESCER ESTE TRIMESTRE, EM RITMO COMPATÍVEL COM 3,5% NO ANO
Autor: Flavia Oliveira
Fonte: O Globo, 28/03/2005, Economia, p. 18

Economistas prevêem expansão de até 0,8% em relação ao fim de 2004

Nem a quebra de parte da safra agrícola nem a elevação dos juros básicos em 1,5 ponto percentual entre janeiro e março vão impedir a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) num ritmo compatível com o crescimento próximo de 3,5% este ano. Pelo menos, não neste primeiro trimestre, dizem os economistas. Apesar das adversidades no clima e na política monetária, a oferta recorde de crédito e o incansável fôlego das exportações vão garantir algum avanço na atividade econômica nos três primeiros meses de 2005. Na comparação com o quarto trimestre do ano passado, as estimativas variam de 0,4% a 0,8%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

¿ Estamos projetando crescimento no primeiro trimestre na casa de 0,4% a 0,5%. É mais ou menos o mesmo ritmo do fim de 2004 e, portanto, abaixo do crescimento potencial da economia. Para 2005, nossa previsão é de 3%. Os riscos da continuidade do aperto monetário e de uma piora nas condições de liquidez internacional estão na revisão para baixo desse número ¿ diz o economista Marco Antônio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos.

Economia mantém o nível moderado do 4º trimestre

O sentimento geral é de que, neste início de ano, a economia está repetindo o nível moderado de atividade do fim de 2004, já em resposta à alta dos juros, que começou em setembro. Desde agosto do ano passado, a Selic passou de 16% para 19,25% ao ano. O próprio Banco Central (BC), na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), afirma que ¿a atividade econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor¿.

Afinados com a análise do BC, os analistas concordam que as estimativas oficiais de 3,5% de crescimento para o PIB não foram sepultadas, como crêem alguns setores empresariais. Mas está evidente que o perfil da expansão já é diferente do ano anterior. Em vez da produção de duráveis e bens intermediários, agora, o que está puxando a indústria são os setores de semi e não-duráveis, de carona na recomposição de renda e na oferta de crédito.

Dados do BC indicam que, apenas em fevereiro, o crédito para pessoas físicas cresceu 3,2%. Resultado da expansão dos empréstimos com desconto em folha de pagamento para assalariados e aposentados, sobre os quais a política monetária do BC tem pouco efeito.

¿ O número do primeiro trimestre ainda virá um pouco acima do que o mercado espera. Se de um lado há sinais de freio, de outro há fatores positivos, como o consumo crescente e o setor externo ¿ analisa Alexandre Sant¿Anna, da ARX Capital Management.

Estados Unidos, Japão e China estão crescendo

O analista chama a atenção especialmente para o vigor das economias americana, japonesa e chinesa, que teve projeções de crescimento elevada de 7,5% para 9%. Já Cláudio Considera, ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, hoje professor do Ibmec-RJ, acha que o crédito será o motor do bom desempenho da economia no trimestre que termina nesta quinta-feira:

¿ A economia vai ficar bem, porque o crédito e as exportações estão compensando os problemas com a safra e a austeridade monetária. Espero um primeiro trimestre positivo em cerca de 1%, apontando para algo entre 3,5% e 4% no ano.