Título: FAZENDEIRO PRESO POR MORTE DE FREIRA OCUPA CELA ESPECIAL NA PF EM BELÉM
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 29/03/2005, O País, p. 4

Bida, porém, não tem curso superior; polícia investiga consórcio de mandantes

BELÉM. O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, mal sabe ler e escrever, mas passou a noite numa cela especial da Polícia Federal em Belém, privilégio garantido por lei a quem tem nível superior. Uma das exigências feitas por ele para se entregar à polícia no domingo foi não ficar preso com outros quatro criminosos.

Ontem, Bida prestou depoimento à Polícia Civil do Pará e mais uma vez negou participação no crime. A acareação entre os quatro acusados pelo assassinato de Stang, inicialmente marcada para hoje, foi adiada porque os advogados participarão de uma audiência em Anapu. A acareação deverá ser feita ainda esta semana. Será a primeira vez que Rayfran das Neves Sales, o Fogoió; Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo; e Amair Feijoli da Cunha, o Tato, ficarão frente a frente com Bida.

A possibilidade de um consórcio de fazendeiros ter sido formado para eliminar Dorothy Stang ganhou corpo nas investigações. O consórcio teria se responsabilizado pelo pagamento de R$50 mil aos pistoleiros.

¿ Vamos investigar, e vai depender do que colhermos de Vitalmiro e da acareação ¿ disse o delegado Waldir Freire, da Diretoria de Polícia do Interior.

Para o promotor Sávio Ruy Brabo de Araújo, da Comarca de Pacajá, ¿a idéia de existência desse consórcio se robusteceu após os dois depoimentos de Bida¿. Uma das razões foi a facilidade que Bida teve para se esconder durante 45 dias, o que indica que ele pode ter tido ajuda de outros fazendeiros. Bida argumentou que teve ajuda de pessoas que acreditam na sua inocência.

Outro indício da existência do consórcio é um suposto bilhete em que Bida menciona duas pessoas conhecidas em Altamira como co-responsáveis pela morte da freira. Nos 45 dias em que esteve foragido, Bida ficou em Altamira, e um dos locais onde se escondeu foi a casa do fazendeiro Délio Fernandes.

Bida: silêncio no depoimento à Polícia Civil

O depoimento à Polícia Civil foi tomado no fim da manhã pelo delegado Waldir Freire. Bida ouviu cerca de 50 perguntas, mas disse que falará apenas em juízo, uma estratégia da defesa para evitar contradições. No domingo, em depoimento na Polícia Federal, ele revelou que sua família teria recebido um bilhete com proposta de R$400 mil para inocentar Tato.

O delegado da PF Ualame Fialho disse que há outras pessoas sendo investigadas, mas os nomes são mantidos em sigilo:

¿ A prisão de Bida foi só um passo a mais nas investigações, que continuam.

No depoimento à PF, Bida disse que Fogoió e Clodoaldo passaram por sua fazenda, e que ficou esperando a polícia aparecer para prendê-los. Mas não explicou porque não procurou os policiais após isso. Bida deve ser ouvido em juízo na próxima quinta-feira pelo juiz de Pacajá, Lucas do Carmo de Jesus.