Título: TEMA EM DEBATE: PARTIDOS
Autor: Alberto Goldman
Fonte: O Globo, 29/03/2005, Opinião, p. 7

PSDB vai desmascarar o governo

Este é um ano crucial. Nele se desenharão os contornos da disputa de 2006 e a base para um novo projeto de país que queremos construir. Lula e o PT serão os nossos adversários.

O grande sucesso alardeado pelos atuais governantes é o crescimento, em dois anos, de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Menos que a média dos demais países do mundo e menos que a média dos países emergentes. Somente no ano de 2004, a China cresceu 9%, a Rússia e a Turquia, 7%, a Índia, 6%. Saímos do fundo do poço e chegamos à mediocridade, em um momento internacional excepcionalmente favorável. Há algo a comemorar? Mais: cresceu como e para quem? A taxa média de desemprego nas regiões metropolitanas caiu, de 2003 para 2004, de 12,3% para 11,5%. Porém, a renda média real dos ocupados que em 2003 foi de R$914,74 caiu para R$907,84 em 2004. O que há para comemorar? Os índices mostram que sequer recuperamos níveis de 2002.

O crescimento econômico não é homogêneo. Puxados pelas exportações (cuja base foi construída no governo anterior), alguns setores cresceram bem mais e o consumo de luxo mais que o de produtos populares.

Os dados mostram, também, que diminuiu a participação no PIB dos ganhos das famílias, enquanto aumentou a participação dos lucros e ganhos financeiros. O único espetáculo de crescimento que se tem visto na era Lula é o crescimento dos juros reais. Somos campeões mundiais.

O que se conclui? Que aumentou a concentração da renda, isto é, aumentou o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Dá para festejar?

Acusavam-nos quando eram oposição de sacrificar o país com altos superávits primários para pagar juros da nossa dívida. No poder, praticam os mais altos da história, e se dão ao luxo de, além do acertado com o FMI, fecharem o ano de 2004 com mais 9,6 bilhões de reais em caixa, enquanto a nossa infra-estrutura vira pó, desestimulando qualquer investimento.

Sabíamos que o governo Lula não seria ¿revolucionário¿. Mas, ao menos, podemos chamá-lo ¿reformista¿? Lula se elegeu para mudar. Mudou o quê? Mudou os costumes políticos? Sim, conseguiu recuperar a prática fisiológica, que a duras penas estávamos conseguindo diminuir. Introduziu a prática do compadrismo, isto é, nenhum ¿companheiro¿ petista pode ficar ao relento, especialmente aqueles que o povo rejeitou nas urnas.

Sua preferência é indicá-los para ministérios, mas se forem ¿companheiros¿ de lutas sindicais, pelos menos um conselho bem remunerado ou uma direção de empresa ou de autarquia. Para tanto, os requisitos de experiência e competência passaram a ser supérfluos. E os demais conceitos éticos? O sr. Waldomiro Diniz está aí para responder. Réu confesso, continua livre. Quem conhece a prática do PT nas prefeituras conquistadas não se surpreende com tudo isso.

Lula mudou as políticas e as estruturas existentes? Na política externa parecia que começava bem, ao construir uma aliança, em Cancun, de 20 países. Depois foram só derrotas. Sobrou o ¿companheiro¿ Chávez que obteve uma linha de crédito de um bilhão de dólares do BNDES, inclusive para o financiamento do metrô de Caracas (enquanto nossos metrôs não conseguem aprovação de empréstimos junto ao mesmo BNDES).

Nas reformas constitucionais, Lula tomou parte da agenda antiga da reforma previdenciária, que quando oposição conseguiu bloquear e, no caso da reforma tributária, promoveu um remendo ¿ a prorrogação da CPMF e da DRU. Porém, não deixou de fazer a ¿sua¿ reforma tributária, emitindo várias medidas provisórias que levaram ao aumento da carga tributária federal, em um ano, em 1% do PIB, que Palocci, cinicamente, não reconhece. E agora a MP 232, que não tem nenhuma justificativa. Nas políticas sociais o que mudou? Mudou o nome do ¿bolsa escola¿. Com outros programas existentes passou a se chamar ¿bolsa família¿. Transformado em programa assistencialista, distribui dinheiro sem contrapartidas.

O governo Lula é um governo medíocre. Arquivou o que propunha quando oposição, mas não construiu um novo projeto. O que se vê é, quando não o retrocesso, a inação. O desastre só não é maior porque a situação internacional nos favorece e o governo anterior consolidou as bases de um país democrático, moderno e produtivo. Mas não temos ilusões: estamos enfrentando um adversário ardiloso que não mede conseqüências para a manutenção do poder. Associa a presença constante de Lula, com um tom emocional de cronista das injustiças brasileiras, ao controle quase absoluto dos principais meios de comunicação de massa, sem qualquer compromisso com a verdade. O nosso papel é desmascará-lo.

A oposição do PSDB, clara, aberta e incisiva, reconhece que somos responsáveis pelos destinos do país, pela consolidação da democracia, pela afirmação dos valores republicanos e pela mudança das estruturas iníquas, seculares e recentes, que mantêm milhões de brasileiros na pobreza e uma sociedade injusta em que poucos têm muito e muitos têm tão pouco. São estes nossos objetivos estratégicos.

ALBERTO GOLDMAN é deputado federal e líder do PSDB na Câmara.