Título: CRISE NA SAÚDE: EXÉRCITO DEVE INAUGURAR DENTRO DE 15 DIAS, EM DEODORO, O 3º HOSPITAL DE CAMPANHA DA CIDADE
Autor: Alan Gripp e Vera Araújo
Fonte: O Globo, 29/03/2005, Rio, p. 13

Interventor diz que crise não se limita a hospitais

Para Sérgio Côrtes, se a prefeitura não reestruturar a rede básica, nem ¿50 Campos de Santana¿ vão resolver

A gigantesca procura por atendimento no hospital de campanha da Marinha é, na opinião do coordenador da intervenção federal, Sérgio Côrtes, a prova definitiva de que a crise na saúde do Rio não se limita aos hospitais. Mais do que isso: segundo ele, a ¿ausência total¿ da rede básica municipal é a chave para compreender porque a crise na área chegou ao ponto de produzir cenas como as vistas ontem no Campo de Santana.

¿ O que aconteceu hoje (ontem) é mais do que uma constatação da ausência total de atendimento de rede básica. É triste constatar isso ¿ disse Côrtes.

À noite, Côrtes reuniu-se com representantes da Secretaria estadual de Saúde, responsável pela gestão dos recursos do SUS durante a intervenção, para discutir uma forma de pressionar a prefeitura a voltar a investir na rede básica. O município tem 103 postos de saúde.

¿ Às vezes, fica parecendo que o problema era do Souza Aguiar que não funcionava. Mas o problema é muito mais profundo. O que aconteceu hoje (ontem) mostra que existe necessidade de investimento maciço em atendimento básico ¿ afirmou Côrtes. ¿ Desse jeito (sem a rede básica), nós vamos criar 50 Campos de Santana e vai continuar a mesma coisa. Temos que levar o atendimento para perto da população.

O secretário municipal de Saúde, Ronaldo Cezar Coelho, não foi encontrado para responder às críticas.

Côrtes por enquanto descartou ampliar a intervenção para a rede básica. Uma comissão de parlamentares, no entanto, defendeu que o estado assuma os postos de saúde da prefeitura.

¿ Vamos entregar um documento ao secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, justificando a gestão do estado na rede básica. Espero que ele compareça na próxima reunião ¿ disse o deputado estadual Paulo Pinheiro (PT).

O vice-almirante Helton Setta, diretor de Saúde da Marinha, fez um apelo para que as pessoas só procurem os hospitais de campanha para as especialidades oferecidas. E, apesar das longas filas, fez um balanço positivo do primeiro dia de funcionamento no Campo de Santana:

¿ O atendimento foi sucesso absoluto para quem não tinha nada. Estamos com a maior boa vontade atendendo, fazendo os exames e doando os remédios. É preciso entender que isso é um serviço que não estamos acostumados a ver no dia-a-dia. Esses 600 atendimentos são milagrosos.

O terceiro hospital de campanha, que será montado pelo Exército em Deodoro, deverá ser inaugurado nos próximos 15 dias. Segundo ele, falta apenas resolver um problema técnico de climatização dos contêineres, onde deverão ser atendidas 500 pessoas por dia.