Título: LULA: `ANDAR PELAS PRÓPRIAS PERNAS¿
Autor: Martha Beck e José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 29/03/2005, Economia, p. 19

Líder tucano rejeita a tese de que país superou a herança de FH

BRASÍLIA. Mesmo há 15 meses vivendo sem recursos do FMI, o governo federal escolheu o anúncio da decisão de não renovar o acordo como o ¿marco positivo e importante das mudanças no país¿. A estratégia ficou acertada numa reunião da coordenação política ontem no Palácio do Planalto. Ou seja, o fim do monitoramento do FMI servirá de mote para o discurso petista de que, sob a administração Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil saiu do caos, arrumou os principais indicadores econômicos e conquistou ¿o direito de andar com as próprias pernas¿, como disse ontem o presidente Lula para ministros e empresários.

O presidente enfatizou que deu continuidade à relação com o Fundo iniciada pelo governo anterior para evitar que o país perdesse credibilidade.

¿ Todo mundo sabe que o Brasil quebrou três vezes e que o acordo deu sustentabilidade para que o país sobrevivesse.

Segundo o presidente, não é mais preciso a fiança do Fundo porque, sob sua gestão, o Brasil aprendeu a fazer a lição dentro de casa:

¿ O governo conquistou, com o sacrifício do povo brasileiro, o direito de andar com as próprias pernas. Ninguém precisa dizer para nós que precisamos ser responsáveis com os gastos públicos.

O discurso da mudança foi abraçado tanto pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quanto pelo ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, e pelo líder no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Antes de se encontrar com líderes no Congresso, Aldo Rebelo afirmou que a decisão foi resultado da opção do governo por uma política determinada de ajuste fiscal e um sinal de que o Brasil mudou. Mercadante foi adiante e, enquanto Palocci anunciava a decisão, subiu à tribuna para comemorar, irritando os tucanos ao enfatizar que o governo tinha superado a herança recebida de Fernando Henrique Cardoso:

¿ O Brasil vive um belo momento, mostra vigor. Não que não tenhamos mais dificuldades, mas o país saiu da UTI em que se encontrava ¿ disse.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), classificou o discurso de temerário:

¿ Ele (Mercadante) não foi feliz. Foi provocativo e pueril. Essa não é a primeira vez que o Brasil dispensa um acordo com o FMI. Mas é bom lembrar que quem botou o país na UTI não foi o governo passado, mas o medo de um governo Lula.

Já a base aliada comemorou e endossou o discurso da mudança. O ex-presidente José Sarney não vê motivos para preocupação:

¿ Acho que é excelente a notícia que o Brasil saiu da crise aguda, na qual teve de recorrer ao FMI. Ainda temos viva na memória a lembrança da crise cambial de 1999. Recorrer ao FMI é algo que se faz sem querer.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o fim do acordo com o FMI é prova de que mudaram as condições do país.