Título: `TENHO LEVADO MUITO CACETE,¿ REAGE SEVERINO ÀS CRÍTICAS À SUA GESTÃO
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 30/03/2005, O País, p. 5

Apesar da pressão dos líderes, ele diz que a palavra final na Câmara é sua

BRASÍLIA. Apesar de aceitar fazer reuniões semanais com os líderes partidários e de ouvi-los sobre a pauta de votações, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem que é sua a prerrogativa de decidir o que será submetido ao plenário. Em discurso lido em reunião com os líderes, Severino aproveitou também para fazer um desabafo, queixando-se de ser responsabilizado por erros que, segundo ele, não cometeu.

Para Severino, reportagens publicadas sobre ele e a Câmara são tendenciosas, mentirosas e mal-intencionadas:

¿ Pelos meus erros eu respondo. Só não posso responder pelo exagero que colocam nas minhas costas, como notícias e dados mentirosos que acabam por atingir a instituição.

Campanha na internet por impeachment de Severino

Desde o início de sua gestão, há um mês e meio, Severino caracterizou-se como um presidente polêmico, que tentou aprovar o aumento dos subsídios dos deputados, elevou ¿ sem ouvir o plenário ¿ o valor da verba de gabinete e defendeu a prática do nepotismo. Uma campanha na internet chegou a pedir o seu impeachment. Nos bastidores do Congresso também se fala nessa possibilidade, se ele prosseguir com medidas impopulares.

Ontem, o próprio Severino falou sobre essa ameaça ao pedir apoio dos empresários que o saudavam e comemoravam a derrubada da MP 232:

¿ Afif, só quero que você me ajude porque tenho levado muito cacete. Diziam que iam pedir o meu impeachment, mas hoje eu fui unanimidade na reunião de líderes. Todas as críticas que quiserem fazer, façam que o Severino agüenta ¿ disse ele, dirigindo-se a Afif Domingues, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

À noite, Severino deu sinais de recuo pela primeira vez, ao negar que pretenda dirigir a Câmara sem a participação dos líderes. Mas acrescentou:

¿ Dispensável lembrar que a decisão final é prerrogativa da presidência, que poderá incluir matérias que no seu entendimento devam ser apreciadas.

Pela nova regra, os líderes indicarão projetos de seu interesse nas reuniões semanais de quarta-feira. Na quinta, Severino apresentará sua decisão sobre a pauta da semana seguinte.

COMPLEMENTO

`SE FOR PARA TODOS, APÓIO¿ 30/03/2005 Severino diz que aceita proibir nepotismo

BRASÍLIA. Depois de defender abertamente a prática de nepotismo e admitir que emprega seis parentes na Câmara, o presidente Severino Cavalcanti (PP-PE) disse ontem, no plenário, que apoiará qualquer proposta que proíba a contratação de parentes, desde que seja extensiva a todos os poderes da União, dos estados e dos municípios. Provocado em plenário pelo deputado Roberto Freire (PPS-PE), autor de uma proposta que proíbe a prática do nepotismo, engavetada na Câmara desde 1999, Severino afirmou:

¿ Se for para todos os poderes, conta com o meu apoio. Não estou aqui para preparar privilégio para ninguém. Minha posição é de igualdade para todos. Essa proibição tem que ser (também) para o Executivo e o Poder Judiciário, o municipal e o estadual ¿ disse, sendo aplaudido pelos deputados.

O presidente da Câmara sugeriu a Freire que o líder do PPS, Dimas Ramalho (SP), submeta a proposta de votação do projeto na reunião de líderes marcada para quinta-feira.

¿ É preciso seguir os preceitos da impessoalidade e da moralidade administrativa. Meu projeto incluiu todos os governantes de todos os poderes ¿ disse Freire.

O projeto diz que é ¿vedado a membros de poder e aos demais ocupantes de cargo, emprego ou função pública, de qualquer dos poderes, nomear cônjuge, companheiros, parentes, consanguíneos ou ou afins, até o terceiro grau¿.

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