Título: ROSINHA ENSAIA REAPROXIMAÇÃO COM PLANALTO
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Fonte: O Globo, 30/03/2005, O País, p. 9

Governistas propõem retirada da reforma tributária da pauta até que governo e estados se entendam

BRASÍLIA. A reunião da governadora do Rio, Rosinha Garotinho, com três ministros no Palácio do Planalto, ontem, marcou nova fase na relação do estado com o governo federal. Após a reunião, da qual participaram os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antônio Palocci (Fazenda) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), e o presidente do PMDB, Michel Temer, a governadora disse ter ficado satisfeita com o resultado da conversa e comentou a possível colaboração da bancada do PMDB do Rio na votação de projetos de interesse do governo.

¿ Deu-se efetivamente uma aproximação. A presença da governadora, com três ministros, é uma nova fase no relacionamento institucional e administrativo. O que ela vem pleitear é em favor do Rio ¿ disse Temer.

¿ Posso dizer que nossa posição é institucional. Tudo o que for para o bem do Brasil, nossa bancada estará votando com o governo. Aquilo que entendemos diferente, não votamos. Temos uma certa independência para votar as questões do governo federal ¿ completou Rosinha.

Aldo afirmou que Lula sempre procurou conversar com a governadora e que o governo federal tem interesse em ajudar a assegurar o êxito de sua administração.

¿ Eu diria reaproximação, porque a governadora sempre contou com nosso apreço e carinho. Torcemos para que o governo dela seja vitorioso ¿ disse Aldo. ¿ O governo sempre buscou a interlocução institucional com o PMDB e, quando isso se aproxima da realização, é bom para o PMDB, para o governo e para o Brasil.

Envio de tropas federais causou primeira desavença

As desavenças com o governo do Rio começaram no primeiro ano do governo Lula, quando era discutido o envio de tropas federais ao estado para ajudar no combate ao crime organizado. As críticas mais duras ao Planalto partem do secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, que costuma dizer que a União prejudica o estado.

¿ Tem de ter diálogo e sempre estivemos dispostos a dialogar. Não tivemos resposta alguma hoje, mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ficou de marcar um novo encontro. Sai com a esperança de que o ministro reveja alguns pontos da reforma tributária. O diálogo faz bem para todo mundo ¿ disse Rosinha.

A missão de Temer agora será diminuir o tom das críticas de Garotinho ao Planalto. Ao deixar o palácio, a governadora cochichou para o presidente do PMDB:

¿ Agora você tem de me ajudar a convencer Garotinho.

Na reunião, a governadora pediu que a reforma tributária só entre em vigor a partir de 2007 e que a compensação dos estados que terão perdas com a unificação do ICMS seja automática e não dependa da disponibilidade de recursos orçamentários. Ela sugeriu inclusive que as perdas fossem abatidas das parcelas da dívida dos estados com a União, mas a proposta não foi aceita por Palocci. Segundo a governadora, com a unificação do ICMS, o Estado do Rio perde cerca de R$500 milhões de arrecadação por ano.

Temendo o fatiamento da reforma tributária, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), informou ontem que a base vai apresentar requerimento pedindo a retirada da reforma da pauta do plenário da Câmara, até que governo e estados cheguem a um acordo. O líder acusou a oposição de usar a pressão dos prefeitos para fatiar a reforma e afirmou que o governo não vai permitir isso.

O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), disse que a reforma tributária vai ser votada quando governadores e governo acertarem um texto de consenso, como têm pedido os próprios governadores.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, elogiou a decisão do governo federal de apresentar um requerimento propondo a retirada da reforma tributária da pauta da Câmara, desde que a medida sirva para aperfeiçoar o texto.

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