Título: MUDANÇA EM TRANSPLANTES É POLÊMICA
Autor: Luciana Brafman
Fonte: O Globo, 30/03/2005, O País, p. 9

Médicos criticam novas regras para a fila das cirurgias de fígado no país

O anúncio de novas regras para a fila de transplante de fígado já causa polêmica. Apesar de a adoção do critério de gravidade do doente ser considerada positiva pelos médicos, questões como ¿desperdiçar um fígado¿ com um paciente prestes a morrer e o aumento da taxa de mortalidade dividem as opiniões.

O Ministério da Saúde estipulou o prazo de dois meses para que as normas entrem em vigor. O tempo é considerado curto pelo coordenador da Unidade de Fígado do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) e responsável pela Central Rio Transplante, Joaquim Ribeiro Filho. Pensando nos que já estão nas filas por anos, Ribeiro Filho defende uma transição.

¿ O que vamos dizer para esses pacientes? Simplesmente que os critérios mudaram? Há um direito adquirido ¿ afirma o médico, que faz questão de dizer que é a favor da mudança, mas não do modo como está sendo proposta.

Apesar de ser favorável a operar pacientes em estado grave, Ribeiro Filho acredita que há um limite, pois vai haver um ¿desperdício de fígados nos casos em que os doentes já tiverem passado do ponto de operar¿.

O representante da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos na Câmara Técnica de Fígado do Ministério da Saúde, Sérgio Mies, participou da reunião em que foi decidida a troca do critério, mas foi voto vencido. Ele queria uma mudança menos radical para impedir o aumento na taxa de mortalidade entre transplantados. Segundo dados da Secretaria da Saúde de São Paulo, a sobrevivência no estado depois de um ano é de 65%, percentual baixo para padrões internacionais.

¿ No resto do país a mortalidade é ainda maior. E vai aumentar se começarmos a operar os casos mais graves. E os paciente clinicamente melhores só serão transplantados quando já estiverem em estado grave. Será um desastre ¿ critica Mies.