Título: RELATÓRIO LIVRA ANNAN EM CASO DE CORRUPÇÃO
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 30/03/2005, O Mundo, p. 33

Secretário-geral da ONU é acusado, porém, de falhar em investigação envolvendo seu filho

NOVA YORK. Kofi Annan suspirou aliviado. ¿Como sempre esperei, o inquérito deixou claro que nada fiz de errado¿, disse ontem, em nota. Mas o secretário-geral da ONU não se saiu tão bem assim das acusações de tráfico de influência e corrupção nas Nações Unidas. O relatório da comissão que investiga o programa petróleo por comida, divulgado ontem, concluiu que ele não teve influência na escolha da empresa suíça onde seu filho Kojo trabalhava ¿ Cotecna ¿ para monitorar o programa. Mas Paul Volcker, presidente da comissão, disse que Annan foi omisso e falhou ao não investigar apropriadamente as relações de Kojo com a Cotecna.

A empresa fez com a ONU um contrato US$10 milhões anuais entre 1998 e 2003 para fiscalizar a aplicação do dinheiro do petróleo no Iraque em atividades humanitárias e permitiu que pelo menos US$2 bilhões fossem desviados.

¿ A comissão mantém a opinião de que o secretário-geral fez uma investigação inadequada sobre tráfico de influência na escolha da empresa onde seu filho trabalhava ¿ disse Volcker, que criticou duramente a investigação determinada por Annan depois das denúncias de corrupção no programa.

Segundo o relatório, Annan deveria ter encarregado o departamento da ONU responsável pela supervisão de serviços internos de fazer uma investigação independente na Cotecna, já que havia denúncias de que a empresa estava usando Kojo para abrir portas e fazendo pagamentos ilegais à ex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhuto. ¿Se essa investigação tivesse acontecido, provavelmente a Cotecna não teria seu contrato com a ONU renovado¿, diz o relatório.

Comissão diz que investigação continua

Foi concorrida e tensa a entrevista para a divulgação do segundo relatório da comissão sobre o programa da ONU. O documento acusa Kojo de esconder suas relações profissionais com a Cotecna, para a qual ele trabalhou entre 1996 e 1998 e da qual se tornou secretamente consultor até fevereiro do ano passado. A comissão concluiu que Annan não sabia que o filho mantinha ligação profissional com a Cotecna, mas disse que continuará investigando os negócios de Kojo.

O relatório ainda acusa a Cotecna de tentar esconder suas ligações profissionais com Kojo e Iqbal Riza, ex-chefe de Gabinete de Annan, de destruir documentos relacionados com o escândalo do programa. Riza foi demitido em dezembro.