Título: Primeiro atrito veio antes da posse
Autor: Ilimar Franco e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 31/03/2005, O País, p. 3

PRINCIPAL COORDENADOR POLÍTICO DA CAMPANHA DO ENTÃO CANDIDATO À PRESIDÊNCIA LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, O CHEFE DA CASA CIVIL, JOSÉ DIRCEU, SOFREU O SEU PRIMEIRO GOLPE EM DEZEMBRO DE 2002, ANTES MESMO DE O GOVERNO PETISTA TOMAR POSSE. DEPOIS DE NEGOCIAR DURANTE UM MÊS A ENTRADA DO PMDB NO GOVERNO, DIRCEU FOI DESAUTORIZADO POR LULA, QUE VETOU A ARTICULAÇÃO. DIRCEU, ENTÃO PRESIDENTE DO PT, HAVIA ACERTADO A PARTICIPAÇÃO DO PMDB EM DOIS MINISTÉRIOS, O DAS MINAS E ENERGIA E O DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. DORMIU COM ESSA CERTEZA E ACORDOU, NO DIA SEGUINTE, COM O PRESIDENTE ELEITO DESAUTORIZANDO A NEGOCIAÇÃO Durante o primeiro ano do governo Lula, Dirceu mostrou sua força. Comandou a nomeação de todos os cargos do governo e a liberação de emendas de parlamentares. Também eliminou os concorrentes mais próximos. Conseguiu esvaziar a Secretaria Geral da Presidência, enfraquecendo o ministro Luiz Dulci. Nos bastidores, rivalizava com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tentando influir na condução da política econômica. Chegou a ser apontado como uma espécie de primeiro-ministro. Dizia que essa notícia visava a intrigá-lo com o presidente.

Mas o golpe mais duro veio com o escândalo envolvendo o ex-assessor parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina de um bicheiro. O ministro havia perdido a coordenação política do governo na primeira reforma ministerial, mas seu enfraquecimento estava passando despercebido quando estourou o escândalo envolvendo um de seus principais assessores.

Enfraquecido com o escândalo, Dirceu queria de Lula uma demonstração pública de prestígio e solidariedade, o que demorou a acontecer. Chegou a ameaçar sair do governo. Em seguida, iniciou uma queda-de-braço com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, inconformado pelo fato de este ter instalado uma comissão de sindicância para investigar os atos de Waldomiro no governo, no período em que ele era o principal assessor parlamentar de Dirceu na Casa Civil.

Na tentativa de recuperar sua imagem, Dirceu passou a estimular críticas à política econômica. Começou a cobrar resultados de Palocci, num momento extremamente delicado em que as taxas de juros estavam altas e o governo fazia um grande esforço fiscal, provocando a redução dos investimentos.

No segundo semestre do ano passado, Dirceu voltou a articular fortemente com o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, o projeto da reeleição dos comandantes do Congresso. Essa discussão se arrastou por meses, desgastou a base aliada e prejudicou a candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara. Com a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), o PT foi derrotado e grande parcela de culpa foi atribuída à demora do partido em desistir da reeleição de João Paulo.

Ainda abalados pela derrota e divididos com os rumos do governo, os petistas encontraram em Dirceu o nome para enfrentar outra batalhar: unir o PT na campanha para que o partido retomasse a coordenação política. Irritado, Lula desautorizou o movimento contra Aldo.