Título: VIÚVA DE TENÓRIO CAVALCANTI GANHARÁ INDENIZAÇÃO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 31/03/2005, O País, p. 9

Comissão de Anistia se baseou em documento da Abin; ex-deputado teve direitos políticos cassados pela ditadura

BRASÍLIA. A Comissão de Anistia do governo federal concedeu indenização pós-morte para o ex-deputado Tenório Cavalcanti, um político polêmico e populista, que se notabilizou por andar armado com uma metralhadora, batizada de Lurdinha, e por vestir uma longa capa preta e chapéu da mesma cor. Walkiria Lomba Cavalcanti, viúva do homem da capa preta, vai receber R$78 mil.

A portaria com a concessão da anistia foi publicada no Diário Oficial de anteontem e assinada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O processo foi aprovado em dezembro do ano passado e julgado pela 1ª Câmara da Comissão de Anistia. Tenório morreu em maio de 1987, no Rio, vítima de uma pneumonia, aos 81 anos.

Abin: Tenório teria pregado a revolução pelas armas

Em 1964, Tenório Cavalcanti teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar por dez anos. Numa certidão emitida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e anexada ao processo, Tenório aparece como fundador do jornal ¿Luta Democrática¿ e é citado por ter apoiado, cedendo armas e munição, um movimento subversivo de camponeses de Cachoeira de Macacu (RJ).

Segundo a certidão, Tenório, que disputou eleições pela UDN e pelo PST, teria ainda pregado a revolução pelas armas e ¿exaltado o regime cubano¿. Também assinou um manifesto pedindo a legalidade do PCB.

O documento da Abin, que foi fundamental para aprovação da sua anistia política, afirma ainda que, em março de 1964, Tenório teria ofendido o governo militar, razão pela qual teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. Dez anos depois, em junho de 1974, Tenório recuperou seus direitos políticos e, segundo a certidão da Abin, defendeu a criação do Movimento Nacional Popular Pró-Governo Geisel.

Tenório foi acusado de assassinato de delegado

Tenório Cavalcanti teve uma vida bastante conturbada. Era conhecido também como ¿Rei da Baixada¿, uma referência à região onde viveu, a Baixada Fluminense. Lá, elegeu-se deputado estadual e federal. Ele vivia numa fortaleza e fez dezenas de inimigos políticos. Foi acusado de envolvimento no assassinato do delegado Albino Imparato, crime ocorrido em agosto de 1953. Teve sua casa cercada por policiais e livrou-se da acusação graças à ajuda de políticos aliados, como Osvaldo Aranha, ex-ministro das Relações Exteriores e da Fazenda.

Político perdeu disputa pelo governo da Guanabara

Tenório disputou e perdeu o governo da Guanabara para Carlos Lacerda, em 1960. Quando era deputado federal, acusou, num discurso, o então presidente do Banco do Brasil, o baiano Clemente Mariani, de desvio de verba. O então deputado Antonio Carlos Magalhães saiu em defesa do conterrâneo e acusou Tenório de de ser ladrão. Tenório, então, sacou o revólver.

¿ Vai morrer agora mesmo ¿ disse Tenório, que acabou não disparando.