Título: EMERGÊNCIA AMEAÇADA
Autor: Adriana Vasconcelos, Célia Costa e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 31/03/2005, Rio, p. 15

Prefeitura estuda fim de pronto-atendimento no PAM do Méier

Em meio à crise na rede municipal de saúde, a prefeitura ameaça fechar o pronto-atendimento no PAM (Posto de Assistência Médica) do Méier. Segundo a direção da unidade, que funciona 24 horas e atende a cerca de 600 pessoas diariamente, o serviço de emergência será transferido para o Hospital Salgado Filho, da rede municipal. Ontem houve uma reunião entre funcionários do PAM e representantes do Sindicato dos Médicos e da Comissão de Saúde da Alerj. Hoje os funcionários farão uma manifestação contra a transferência.

Segundo funcionários do PAM, a intenção da prefeitura, anunciada numa reunião anteontem, é instalar ali o setor ambulatorial, ou seja, de atendimento não emergencial, do Salgado Filho. A mudança seria feita dentro de até dez dias. Parte dos 280 funcionários do posto seria transferida para o hospital, que, segundo a Secretaria municipal de Saúde, enviaria outros para atender no novo ambulatório.

Atualmente já há no PAM ambulatório de nutrição, psicologia, serviço social e ortopedia. O fim do pronto-atendimento, na avaliação dos médicos, seria uma perda para a população.

Dos 280 funcionários do PAM, 60% são federais, já que a unidade, originalmente administrada pela União, foi municipalizada há sete anos. Entre os 67 médicos que trabalham ali, a maioria, afirmou o chefe da equipe, Dalmo Teixeira, tem 50 anos ou mais.

¿ A prefeitura nos comunicou que os cargos de chefia vão acabar. Os médicos, a maioria com muitos anos de profissão, não vão querer dar plantão de madrugada na emergência de um hospital caótico como o Salgado Filho. Temo que vários deles possam pedir aposentadoria ¿ disse Teixeira.

Presente à reunião de ontem com a direção do posto, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, reprova o plano da prefeitura:

¿ A decisão é política. Querem abrir na marra a emergência do Salgado Filho, usando o pessoal daqui. Só que os 67 médicos do PAM não representam nem um quarto do número mínimo necessário lá.

No PAM, pacientes elogiam o atendimento e temem a transferência. O desenhista Jader Salomão, que ontem esperava atendimento lá, estava revoltado:

¿ É uma safadeza nos tirarem uma unidade de saúde. O Salgado Filho é horrível, não tem condições de receber ninguém.

A Secretaria municipal de Saúde não confirma oficialmente a mudança, mas diz que o estudo que trata do assunto ainda está em andamento, sem prazo de conclusão. Segundo a secretaria, as transferências seriam uma questão de reorganização do atendimento na região.