Título: PALOCCI VENCE DUELO COM GRUPO DE DIRCEU
Autor: Maria Lima, Regina Alvarez e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 31/03/2005, Economia, p. 25

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, venceu a queda-de-braço com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, fazendo com que o governo rejeitasse integralmente a polêmica medida provisória (MP) 232, editada em dezembro passado. Dirceu e parlamentares petistas na Câmara pediram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a manutenção da correção de 10% da tabela do Imposto de Renda (IR) e o abandono das demais medidas, argumentando que a correção do tributo beneficiaria sete milhões de assalariados e haveria custo político.

Pressionado, Lula chegou a avaliar uma mudança de posição. Mas Palocci foi taxativo no acordo de rejeitar integralmente o texto da MP 232. O grupo de Dirceu lembrou a Lula que o reajuste havia sido um compromisso do próprio presidente e que era um pauta positiva junto à classe média. Isso porque as pesquisas de opinião pública mostram que o maior desgaste do governo está justamente nesse segmento da população.

Mas, como nos últimos embates internos, acabou prevalecendo a visão de Palocci. O ministro da Fazenda deixou claro que seria um sinal negativo para o mercado o fato de gerar uma despesa sem uma fonte de receita segura. Na MP 232 foi incluída a alta de impostos para prestadores de serviços, com a qual seria garantido o aumento de arrecadação.

Segundo assessores palacianos, Lula foi convencido que se deixasse passar agora a correção da tabela do IR o governo ficaria enfraquecido em uma negociação com o Congresso para conseguir depois o recurso para compensar a despesa. Ontem, em conversas com vários parlamentares, José Dirceu deixou claro que o governo estava cometendo um erro em relação à MP 232.

¿ O Palocci está pegando pesado demais com essa medida provisória ¿ desabafou Dirceu.

Na visão de petistas próximos ao chefe da Casa Civil, o governo poderia aceitar a correção da tabela imediatamente. Isto porque, do ponto de vista político, sairia da mira da oposição. Lula deveria aproveitar o momento de tensão na Câmara para virar o jogo, dizem. (Gerson Camarotti)