Título: IGP-M TRIPLICA EM MARÇO, COM ALTA DE 0,85%
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 31/03/2005, Economia, p. 41
Taxa foi puxada pelo atacado, sobretudo preços agrícolas. Economista da FGV diz que `mudou a cara da inflação'
RIO e BRASÍLIA. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) deu um salto em março. A taxa do mês, de 0,85%, é quase três vezes a de fevereiro (0,30%) e é a mais alta desde agosto do ano passado. O indicador ¿ que reajusta as tarifas de energia ¿ subiu 1,55% no ano e 11,12% nos últimos 12 meses. A pressão maior veio da alta de preços no atacado. A inflação do componente, que responde por 60% do índice, subiu de 0,20% em fevereiro para 0,94% em março. Os produtos agrícolas, principalmente os in natura, subiram de 0,44% para 3,21%. Mas o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, diz que as altas não se concentraram nesse item:
¿ Mudou a cara da inflação. Há, sem dúvida, um choque de oferta com a estiagem no Sul e a alta das commodities como soja e milho, mas houve reajustes também nos produtos de higiene e limpeza, de vestuário, o que indica alguma pressão de demanda.
Segundo Quadros, o setor de não duráveis está aquecido com a recuperação da massa salarial e a expansão do crédito:
¿ Há mais focos de alta, o que não aconteceu nos meses anteriores.
Palocci e Meirelles defendem metas de inflação
No caminho inverso, os produtos industriais no atacado continuaram comportados: passaram de 0,12% para 0,17%. E o preço do aço para construção caiu 0,11%, primeira queda desde setembro de 2003. Quadros acredita que a desvalorização do câmbio e as mudanças na tarifa de importação provocaram a queda.
O economista da PUC Luiz Roberto Cunha, ao contrário de Quadros, não vê motivos para preocupações. Segundo ele, o Índice de Preços por Atacado (IPA) amplia as oscilações dos preços agrícolas:
¿ Os preços industriais, que o Banco Central acompanha, estão comportados. O índice não é bom para prever a evolução dos preços.
Em Brasília, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, aproveitaram ontem o seminário de comemoração dos 40 anos do banco para defender o regime de metas de inflação. Palocci destacou que as baixas taxas de crescimento da economia no passado podem ser creditadas, em grande parte, a episódios de descontrole inflacionário ou a iniciativas ¿dramáticas¿ contra esse processo.
¿ Não temos mais o direito de transformar a sociedade brasileira em laboratório de pesquisa macroeconômica sem finalidades muito bem definidas ¿ disse Meirelles.
COLABORARAM Martha Beck e Geralda Doca