Título: ITAMARATY RECEBE DOCUMENTO DE ENGENHEIRO
Autor: Rodrigo Rangel, Luiza Damé e Michael Guedes
Fonte: O Globo, 31/03/2005, O Mundo, p. 46

Apesar de discurso otimista do chanceler Amorim, setores do governo admitem que Vasconcellos poderia estar morto

BRASÍLIA e JUIZ DE FORA. O Ministério das Relações Exteriores recebeu ontem uma carteira de mergulhador com foto do engenheiro João José Vasconcellos Júnior, seqüestrado no Iraque no dia 19 de janeiro. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o documento seria o mesmo exibido pela rede de televisão árabe al-Jazeera poucos dias depois do seqüestro do brasileiro.

Para Amorim, o recebimento da carteira não indica nem que o engenheiro esteja vivo nem que ele esteja morto. Mas setores do governo já começam a demonstrar desânimo e considerar que o brasileiro poderia ter morrido.

O Palácio do Planalto recebeu nos últimos dias informações vindas do Oriente Médio que indicam que Vasconcellos poderia estar morto há semanas. O engenheiro teria morrido no cativeiro, dias após o ataque ao comboio em que ele estava.

Segundo os informes recebidos pelo Planalto, que não foram confirmados oficialmente, Vasconcellos teria sido baleado na ação dos terroristas. Mesmo ferido, foi levado para o cativeiro mas não teria resistido.

O governo brasileiro estaria apenas aguardando uma nova checagem de algumas informações antes de anunciar publicamente a morte do engenheiro. O assunto, que tem sido mantido sob absoluto sigilo, está sendo tratado por um grupo restrito de diplomatas e funcionários do Planalto.

Família de engenheiro diz que informação pouco acrescenta

Ontem, no entanto, Amorim procurou demonstrar otimismo:

¿ Não é um indicador num sentido nem em outro. Repito: continuamos tendo esperança. Continuamos a receber indícios de que ele poderia estar vivo e estamos trabalhando com essa hipótese ¿ afirmou Amorim.

O ministro relatou ontem à tarde ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o recebimento do documento. O ministro evitou dar detalhes de como a carteira chegou ao ministério, argumentando que isso poderia atrapalhar o trabalho de diplomatas brasileiros para resgatá-lo.

Amorim afirmou que todo o procedimento do governo brasileiro tem sido articulado com a construtora Odebrecht, empresa onde o engenheiro trabalha, e com a família de Vasconcellos. O ministro disse que a carteira é o primeiro dado concreto que o governo conseguiu desde que começou a trabalhar para resgatar o engenheiro.

A família de Vasconcellos recebeu com ceticismo a divulgação do aparecimento da habilitação de mergulho do engenheiro. Em Juiz de Fora, a irmã Isabel argumentou que a carteira não é uma prova ¿nem de vida nem de morte¿ do brasileiro. Ela revelou que a entrega do documento ao Itamaraty foi feita no Brasil, por um emissário ¿que está colaborando desde o início das investigações¿. Outro irmão de Vasconcellos, Luiz Henrique, garantiu que o contato do governo nesse caso não tem relação com diplomatas da Jordânia.

¿ Isso não representa muita coisa. Estávamos até esperando o aparecimento de outros objetos que estavam com o João no momento do seqüestro, como o laptop e a mala. Qualquer pessoa poderia ter acesso a esse material ¿ explicou Isabel.

De acordo com ela, o comércio de documentos e outros pertences de seqüestrados é comum na ação de extremistas. A família do engenheiro tomou conhecimento da entrega da carteira de mergulho através de Amorim. O ministro relatou, ainda, que o presidente Lula determinou a intensificação das investigações pelo Itamaraty.