Título: PRESO O DOLEIRO DE COLLOR
Autor:
Fonte: O Globo, 01/04/2005, O País, p. 3

Condenado por crimes contra o sistema financeiro, Turner estava foragido há mais de um ano

SÃO PAULO

Odoleiro uruguaio Najun Turner, de 55 anos, que ficou conhecido por fazer operações financeiras ilegais para o então presidente Fernando Collor, no início da década de 90, foi preso pela Polícia Federal às 6h15m de ontem em seu apartamento no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Turner estava foragido desde 17 de fevereiro do ano passado, quando foi condenado a dez anos de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São aulo) por dois crimes contra o sistema financeiro nacional, entre eles o envio irregular de R$165 milhões para o exterior, em 2000, por meio de contas CC-5, que servem para pessoas que não moram no Brasil.

Turner já era alvo do Ministério Público Federal desde a década de 90, quando se descobriu que ele foi o operador financeiro da Operação Uruguai ¿ esquema divulgado por Cláudio Vieira, então secretário particular de Collor, para justificar o enriquecimento do ex-presidente com o dinheiro de sobras da campanha eleitoral. Por causa da Operação Uruguai, Turner, Collor e Vieira foram condenados juntos em fevereiro pela Justiça de Brasília.

No processo que o levou à prisão, Turner havia sido absolvido, em primeira instância, pelo juiz João Carlos da Rocha Mattos ¿ preso e condenado por envolvimento no esquema de venda de sentenças desbaratado na Operação Anaconda. O Ministério Público Federal recorreu e o desembargador Luiz Stefanini, do TRF-3, levou em consideração não apenas as provas do processo como todos os outros casos envolvendo o doleiro, como sua participação na Operação Uruguai e uma denúncia por lavagem de dinheiro em 2003.

As remessas investigadas foram feitas por contas do antigo Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), privatizado em 1998. Seu novo dono, o Banco Itaú, ordenou o fim das operações das contas CC-5 do banco mineiro. Em 2000, a Rilltown Corporation, empresa de Turner, entrou com mandado de segurança pedindo a reabertura de uma conta CC-5 que tinha no Bemge.

Turner disse estar cansado de fugir

Turner foi preso em um condomínio de luxo no Morumbi, onde mora com a mulher e três dos quatro filhos. O Ministério Público Federal foi informado anteontem do endereço do doleiro na capital paulista. Por estar em casa, a PF não pôde prendê-lo à noite, como determina a Constituição. Foi montada uma operação e, com um mandado de prisão expedido pelo juiz Alexandre Cassetari, da 4ª Vara Federal, a polícia invadiu a casa pouco depois das 6h, quando é permitida a prisão. Segundo o delegado Lino Ribeiro, Turner alegou não saber da condenação. Mas depois admitiu estar cansado de fugir.

Dono de uma casa de câmbio, Turner operava como pessoa física no mercado financeiro, aplicando recursos de terceiros em operações com dólares, ouro e na Bolsa. Ele é processado também por operações ilegais com ouro. Uma das corretoras de valores usada por Turner é a Split, envolvida anos depois no escândalo dos precatórios.

Na ação de Turner, sua advogada, Laura Araújo Paes Figueiredo, pediu que o processo fosse distribuído à 4ª Vara Criminal Federal, cujo titular era o juiz Rocha Mattos, porque ele já havia julgado outros casos envolvendo o doleiro. A prática é conhecida como distribuição por dependência, mas não poderia ter sido feita porque o processo sobre a conta tramitava numa vara cível e Rocha Mattos era juiz criminal. Além disso, o processo que justificaria a dependência já havia terminado.

Os argumentos para o processo ter ido para Rocha Mattos foram derrubados em 2002 pela desembargadora Suzana Camargo, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. A ação da Rilltown contra o Itaú e o Banco Central foi enviada para a 11ª Vara Cível e a liminar de Rocha Mattos, anulada.