Título: PRESIDENTE É VAIADO POR ESTUDANTES EM SP
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 01/04/2005, O País, p. 8

Em discurso, Lula disse que a reforma universitária é um passo a mais para a construção de um país `mais soberano¿

SÃO CARLOS (SP). Vaiado por cerca de 200 estudantes, que protestavam contra a reforma universitária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem em São Carlos, interior de São Paulo, um discurso de sete minutos em que respondeu às críticas dos universitários sobre sua política educacional. A cada afirmação do presidente sobre a necessidade de mudanças no ensino universitário, o grupo de estudantes, alguns deles usando nariz de palhaço, retrucava com gritos de ¿mentira¿.

Exaltado, Lula abriu o discurso com a promessa de que o hospital-escola municipal da cidade, cujas obras deverão ser entregues no fim deste ano, funcionará a partir de 2006. Também lembrou que em seu governo estão sendo construídas quatro novas universidades federais, além de três extensões em regiões pobres do país, incluindo Garanhuns, sua cidade natal.

¿ Já tinha dito antes da eleição que era preciso um torneiro-mecânico virar presidente da República para resolver os problemas da educação no país ¿ disse Lula, que afirmou ainda que pretende fazer do país um exportador de ¿inteligência, conhecimento e valor agregado¿.

Lula: reforma universitária visa a dar mais autonomia

Lula já tinha sido vaiado pelo grupo quando chegou ao local onde será construído o hospital-escola de São Carlos. Ainda irritado, cobrou dos alunos de medicina, que estudarão no novo prédio, que não pensem apenas em montar seus consultórios, mas também em trabalhar na rede pública. E foi contundente:

¿ Eles devem aprender medicina social, para que saiam da universidade e possam trabalhar no serviço público com orgulho, não apenas pensar em se formar para montar um gabinete e ganhar dinheiro à custa da doença do povo pobre deste país.

Lula disse que a reforma universitária que o governo está preparando visa a dar autonomia para as instituições. Ele afirmou também que a reforma universitária é um passo a mais para que a sociedade ajude a construir um país ¿mais forte e soberano¿.

Com gritos de ¿Abaixo a repressão¿ e ¿Lula, presta atenção, essa reforma é privatização¿, alguns estudantes pularam a cerca onde era realizado o evento.

Assim que chegou, Lula colocou uma pá de concreto na base do primeiro pilar das obras para o hospital, cujo custo é de R$8,6 milhões. Ele estava acompanhado dos ministros José Dirceu (Casa Civil), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Humberto Costa (Saúde), Ricardo Berzoini (Trabalho), Jorge Félix (Gabinete da Segurança Institucional) e do ministro interino Márcio Fortes (Desenvolvimento).