Título: ENTIDADES PROGRAMAM `ABRIL INDÍGENA¿
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Fonte: O Globo, 01/04/2005, O País, p. 8

Indigenistas planejam ocupações para mostrar insatisfação com governo

BRASÍLIA. Inspirado no Movimento dos Sem Terra (MST), entidades que defendem direitos dos índios programam para este mês o ¿Abril indígena¿. O Fórum Nacional dos Direitos Indígenas quer aproveitar abril, mês em que se comemora do Dia do Índio, e mostrar sua insatisfação com a política indigenista do governo Lula.

Estão planejadas ocupações de prédios públicos da Funai, manifestações e invasões de terra que já deveriam ter sido demarcadas pelo Ministério da Justiça. As entidades programaram ações conjuntas com o MST, que já anunciou um novo ¿Abril vermelho¿ para este ano.

As entidades anunciaram ontem parte da programação, como um acampamento em Brasília. O coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Gecivaldo Saterê Mawe, disse que as ocupações vão acontecer até na capital.

¿ Só não vamos repetir o ano passado e ocupar o plenário da Câmara. Mas várias ações estão programadas e não podemos revelar o que será feito ¿ disse Gecivaldo.

Em Brasília, os manifestantes vão montar cinco grandes malocas, que servirão de espaço para discursos contra o governo. Entre as entidades que apóiam as manifestações estão o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), o Instituto Socioambiental (ISA) e o Conselho Indigenista de Roraima (CIR).

Os líderes do movimento disseram ontem que os índios só deixarão Brasília se o governo cumprir pelo menos três reivindicações das entidades: a homologação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, a declaração de dez áreas como terras indígenas em vários estados e a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista, uma promessa de campanha de Lula.

Num duro manifesto, as entidades criticaram a política indigenista de Lula. O governo foi chamado de antiindígena e acusado de remilitarizar a questão.

¿O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) adquiriu importância sem precedentes nos assuntos indígenas. Velhos e superados conceitos de segurança e soberania nacional voltaram a operar com intensidade. As terras indígenas viraram moeda de troca na barganha política com governadores de alguns estados¿, diz o manifesto.