Título: Presidente resistiu a ceder até o último momento
Autor: Martha Beck e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 01/04/2005, Economia, p. 21

Lula temia sair do episódio enfraquecido

BRASÍLIA. Depois de resistir, pressionado pela equipe econômica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve que ceder na noite de quarta-feira e descartar a proposta de rejeitar integralmente a MP 232. Lula foi alertado pelo líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), de que o governo corria o risco de ser derrotado, mesmo depois dos esforços de negociação com a base. Num telefonema dramático, no intervalo do jogo da seleção brasileira contra o Uruguai, Rocha relatou a Lula a reação da bancada petista, que havia se reunido naquela noite.

Lula foi comunicado de que os deputados do PT não estavam dispostos a assumir o desgaste de derrubar a correção de 10% da tabela do IR. Os petistas argumentaram ainda que era preciso descartar as medidas negativas, que garantiam receita. Pressionado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Lula insistiu em rejeitar integralmente a MP para negociar um acordo no futuro.

Sem saída, Lula bateu o martelo pela edição de uma nova medida provisória durante a viagem ontem a São Paulo. No vôo, o presidente foi convencido pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que o acompanhavam.

Os três explicaram que não haveria clima, em hipótese alguma, para manter sua estratégia de forçar o casamento da correção da tabela e de novas fontes de receitas num projeto de lei. Segundo um assessor do Palácio do Planalto, dessa vez, não foi uma vitória de Dirceu sobre Palocci, mas a constatação de que não havia outra alternativa.

¿ O governo cedeu por falta de opção. Estávamos vivendo o caos. Na lógica da equipe econômica, toda vez que surge uma nova despesa, eles recorrem ao saco de maldades. Isso é errado ¿ observou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Lula resistiu até o último momento porque temia ficar enfraquecido para negociar com o Congresso um novo recurso para compensar a perda de arrecadação.

¿ O processo político exigiu essa saída. Percebemos na quarta-feira, depois da sessão, que não havia chance de passar a proposta da equipe econômica ¿ explicou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).