Título: DOMANDO O LEÃO: PARA BASE ALIADA, INICIATIVA EVITOU VITÓRIA DE OPOSITORES
Autor: Martha Beck e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 01/04/2005, Economia, p. 21

Oposição e governistas comemoram enterro da MP que elevava tributos

Oposicionistas dizem que recuo representou derrota fragorosa para Lula

BRASÍLIA. A decisão do governo de editar uma medida provisória revogando parte da MP 232 foi comemorada tanto por governistas quanto pela oposição. Para os deputados da base aliada, foi a melhor saída para evitar que a oposição capitalizasse a vitória para si. Os deputados de oposição, no entanto, apontam como uma das mais fragorosas derrotas do governo no jogo político.

¿ O governo preferiu ir para o confronto, perdeu e teve que se vergar à posição da oposição. O resultado foi a vitória da sociedade ¿ afirmou o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).

¿ Eles não tinham saída e o governo colocou a cabeça no lugar. Era resolver logo ou sangrar até a próxima semana. Quem ganhou foi a sociedade ¿ disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

Para o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o desgaste do governo com essa MP é maior do que com a derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Câmara:

¿ O debate da 232 alcançou as ruas e o desgaste pode atingir o presidente Lula.

O tucano Eduardo Paes (RJ) lembra que o desgaste político acontece justamente na semana em que o governo anuncia a decisão de não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI):

¿ Por pura incompetência política os governistas conseguiram encobrir o discurso do rompimento com o FMI.

O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA), rejeita a análise de derrota:

¿ A nova MP é o governo fazendo valer sua vontade. O presidente Lula está cumprindo a promessa de reajustar a tabela, e em um outro projeto iremos combater a sonegação e a elisão de impostos, e garantir maior justiça fiscal no país.

O líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) criticou a oposição por querer se apropriar da proposta do governo de corrigir em 10% a tabela do IR. Ele lembrou que o governo passado, em oito anos, não conseguiu fazer esse benefício.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) preferiu contemporizar. Na sua opinião, o governo acertou ao atender o apelo da sociedade e por isso a atitude não pode ser considerada como recuo.

¿ Esse recuo do governo não foi um recuo. Foi até um passo acertado do presidente ¿ disse Severino.