Título: INVESTIMENTO E POUPANÇA RECORDES EM 2004
Autor: Cássia Almeida e Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 01/04/2005, Economia, p. 23

PIB somou R$1,769 trilhão e, com isso, Brasil subiu da 15ª posição para 12ª no ranking das grandes economias

O Brasil gerou no ano passado R$1,769 trilhão de riquezas. Esse foi o valor do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas do país) em 2004, quando a economia cresceu 5,2%, na maior expansão em dez anos, puxada pelo mercado interno, com aumento do crédito e da melhoria no mercado de trabalho. Com esse valor, se a renda total fosse dividida igualmente, caberia a cada brasileiro R$9.743, um aumento de 3,7% frente a 2003, conforme informou ontem o IBGE. Esse desempenho recorde da atividade se refletiu nas taxas de investimento e de poupança. A fatia do PIB destinada a aumentar a capacidade produtiva alcançou 19,6%, bem superior à registrada em 2003 de 17,8% e a maior desde 1998. Na poupança, o resultado histórico se repetiu, alcançando 23,2%, na maior taxa desde 1991, contra 20,4% do ano anterior.

¿ O país conseguiu poupar o suficiente para investir, amortizar dívidas, principalmente com o FMI (Fundo Monetário Internacional), e acumular reservas, que aumentaram R$5,6 bilhões ¿ disse Rebeca Palis, gerente das Contas Trimestrais do IBGE.

Com esse valor do PIB, o Brasil conseguiu subir no ranking das maiores economias do mundo. A estagnação de 2003 ¿ o PIB crescera apenas 0,5% ¿ fez o Brasil cair da 12ªpara 15ª. A recuperação de 2004 fez o país reaver a 12ª, ultrapassando a Índia, a Coréia e a Holanda.

¿ Para este ano, se o Brasil quiser avançar no ranking precisa crescer mais que os 3,5% previstos. Os países emergentes, nossos concorrentes diretos, devem ter uma expansão média de 5,2% ¿ disse Alex Agostini, da GRCVisão Consultoria.

Os analistas consideraram os números positivos, mas ainda acham baixo o atual nível do investimento no país. Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ressalta a folga entre a poupança e a parcela destinada a aumentar a capacidade produtiva do país:

¿ O resultado foi bom, mas aquém do necessário para o país continuar crescendo a taxas altas. A boa notícia foi a poupança. A folga entre o investimento e o que a sociedade poupou foi para o amortização de dívida. Mas pode ser destinado ao investimento.

Para o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor da USP, o melhor já passou. Depois da aceleração no primeiro semestre, a taxa inverteu a curva no segundo semestre, impactada pela alta dos juros reais. O juro médio real subiu de 9,1% ao ano, no primeiro trimestre, para 11% no terceiro, fechando o ano em pouco mais de 12%:

¿ Houve uma desaceleração da taxa de investimento intencional.

Cai participação do consumo das famílias

Apesar do crescimento de 4,3% em 2004, no melhor resultado desde 1995, o consumo das famílias perdeu participação na economia no ano passado. Em 2003, era responsável por 56,7% do PIB, caindo para 55,3% no ano passado. Dos 95 bilhões a mais consumidos pelas famílias brasileiras, apenas R$38,2 bilhões foram aumento de gastos, o restante foi por conta dos reajustes de preços.

¿ Mas investimentos, exportações e importações ganharam espaço. Houve aumento de gastos e de preços superiores ao consumo das famílias ¿ disse Rebeca, do IBGE.

Com essa poupança recorde, o Brasil teve R$35,606 bilhões de capacidade de financiamento , contra R$11,193 bilhões em 2003. O que permitiu ao país amortizar dívida com o FMI e ainda aumentar reservas.