Título: COMANDANTE LINHA DURA PRENDEU 16 POLICIAIS
Autor: Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 02/04/2005, Rio, p. 14
`Minha proteção é Deus¿, diz ele
O fato de encontrar uma cabeça no pátio do quartel e outra do lado de fora, na madrugada da última quarta-feira, não intimidou ou surpreendeu o comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), tenente-coronel Paulo Cesar Ferreira Lopes, de 51 anos, há 32 na polícia. Com a experiência de quem atuou nove anos na Corregedoria da Polícia Militar, o comandante tratou de apurar o crime, chegando aos nomes de 11 PMs, que tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias. Imagens de uma câmera da vizinhança mostram policiais fardados retirando dois corpos da mala de um carro da PM, nos fundos do batalhão. O caso dos dois corpos decapitados e a chacina de anteontem seriam uma reação de maus policiais ao rigor disciplinar do comandante.
A ousadia dos assassinos também tinha uma mensagem: as duas cabeças simbolizavam a do comandante e a do seu subcomandante. Desde o primeiro dia em que foi trabalhar no quartel de Caxias, cuja troca de comando ocorreu por haver suspeitas de corrupção, o tenente-coronel Lopes, considerado de linha dura, tem sido a pedra no caminho dos maus policiais da região.
¿ Eu não me assustei nem me surpreendi com as cabeças no pátio. Vou continuar combatendo os desvios de conduta. A corrupção é um problema nacional e os policiais fazem parte da sociedade ¿ disse.
Idealista, o tenente-coronel quer mudar a história da polícia na Baixada:
¿ Temos que expurgar os maus policiais. A polícia existe para proteger o cidadão e não para cometer crimes.
As rondas que o comandante e seus oficiais fazem a qualquer hora do dia, principalmente de madrugada, resultaram em 16 prisões (o policial fica preso no quartel, mas não presta serviços) e 144 detenções (o PM fica impedido de ir para casa, mas cumpre serviço no quartel). Entre os flagrantes mais comuns, o tenente-coronel cita a saída dos policiais de seus postos de serviço.
¿ Certa vez, fui encontrar um carro-patrulha dentro da Favela do Lixão (Caxias) com dois policiais completamente fora do local de ronda deles. Apliquei 30 dias de prisão a cada um. Hoje, um desses policiais faz um trabalho exemplar. Tem que haver disciplina ¿ disse o comandante.
Como caso mais grave, soldados acusados de peculato. Eles teriam recuperado um caminhão roubado horas antes na Linha Amarela e furtado sete rodas, escondidas num borracheiro. Perguntado se não teme por sua segurança, o comandante é lacônico:
¿ Minha proteção é Deus ¿ responde.