Título: Dor e revolta marcam enterros das vítimas
Autor: Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 02/04/2005, Rio, p. 14
Parentes de menino de 13 anos morto no massacre tentam expulsar políticos da capela onde o corpo era velado
Mais do que dor, extrema revolta era o sentimento dos parentes de 15 das 30 vítimas da chacina. Os sepultamentos foram realizados em cemitérios de Nova Iguaçu, Austin, Mesquita e Queimados. Em Austin, exibindo cartazes com fotos das vítimas e entoando coros em que pediam justiça, os parentes ouviram promessas de empenho nas investigações do secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, de parlamentares federais e estaduais e do prefeito do município, Lindberg Farias (PT).
¿ Não vamos nos calar. Que esses covardes venham nos enfrentar sem armas. Essa escória não sabe o que é ter um irmão, um filho sendo enterrado depois de uma morte bárbara ¿ gritava um parente de Jonas de Lima Silva, de 19 anos, morto no bar onde foram assassinadas outras nove pessoas.
Além das quatro vítimas enterradas, no Cemitério de Austin outras dez covas foram abertas para outros sepultamentos marcados para hoje.
Parentes e amigos de Elisabeth Soares de Oliveira, de 46 anos, a dona do bar; Douglas Brasil de Paula, de 14, e Felipe Soares Carlos, de 13, também acompanharam os enterros:
¿ Como podem matar trabalhadores e crianças! Estamos com muito medo, pavor de viver aqui ¿ disse uma vizinha do menino Douglas.
Quando os políticos entraram na capela onde era velado o corpo de Felipe Soares Carlos, de 13 anos, os parentes quiseram expulsá-los.
¿ Respeitem nossa dor, parem de tentar tirar proveito ¿ gritou uma mulher.
No Cemitério de Nova Iguaçu, cerca de 300 pessoas estiveram presentes à tarde ao enterro de Wagner Oliveira da Silva, de 25 anos, morto em Queimados, em frente a um lava-jato; e de Robson Albino, de 37, morto no bar, em Nova Iguaçu. A mãe de Wagner, Jurema, passou mal. Ela não pôde assistir ao enterro e permaneceu na capela durante a cerimônia, ocorrida sob uma salva de palmas.
No dia de sua morte, Wagner saiu de casa para falar com um amigo, dono do lava-jato. Minutos antes, sua mulher o havia convidado para ir à igreja, mas ele respondeu dizendo que chegaria mais tarde ao culto.
Robson trabalhava numa empresa de asfaltamento contratada pela prefeitura de Nova Iguaçu. Era casado com Iolanda Fonseca e não tinha filhos.
¿ Ele era uma pessoa muito amorosa ¿ disse Iolanda.