Título: Maioria dos acusados em outros casos foi absolvida
Autor: Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 02/04/2005, Rio, p. 14

Dos 52 suspeitos de Vigário Geral, 6 foram condenados

As chacinas de Vigário Geral e da Candelária, que chocaram os cariocas e alcançaram repercussão mundial, têm mais pontos em comum do que o fato de terem sido cometidas em 1993 por policiais militares movidos por vingança. Os dois casos terminaram com a absolvição de boa parte dos acusados de terem matado no total 29 pessoas, oito menores nas proximidades da Igreja da Candelária e 21 moradores de Vigário Geral. Dos 52 acusados da chacina na favela, só seis foram condenados. Os outros ¿ o último julgamento aconteceu no mês passado, mais de uma década após o crime ¿ foram absolvidos por falta de provas.

¿ Se o resultado tivesse sido justo, não teriam ocorrido novas mortes agora. Mas a impunidade acaba gerando outros crimes, novas chacinas. Hoje, eu já recebi muitos telefonemas de vítimas. Estão todas muito assustadas ¿ diz a advogada Cristina Leonardo, que foi assistente da acusação nos dois casos.

O primeiro a ser condenado, quatro anos depois da chacina, foi o policial Paulo Roberto Alvarenga. A pena de 449 anos e oito meses de prisão foi alterada para 57 anos por crime continuado. Ele está foragido. Os outros cinco estão presos.

De acordo com Cristina Leonardo, muitos dos acusados terminaram absolvidos por falhas da Justiça e da polícia:

¿ Muitos foram absolvidos porque não havia provas suficientes, já que não houve uma perícia decente. Na época, também não havia proteção a testemunhas eficiente ¿ lamenta a advogada.

Dos oito acusados no caso da Candelária, quatro foram condenados. Três suspeitos foram absolvidos depois que um dos réus os inocentou no tribunal. Outro morreu durante o processo.

Vigário Geral jamais saiu da memória da dona-de-casa Iracilda Toledo, que perdeu o marido, Adalberto de Souza, de 40 anos, na chacina.

¿ Eu não agüento mais falar em matar, matar. Alguém tem que parar com isso. O Rio de Janeiro vai parar onde? Estamos nas mãos de quem? Cada vez que isso acontece, volta tudo novamente. A dor dessas famílias eu já senti. O que está adiantando tanta luta? Onde está nossa governadora? E nosso secretário? ¿ desabafou, aos prantos, Iracilda, presidente da Associação de Vítimas de Vigário Geral.