Título: DECISÃO DE NÃO IR PARA HOSPITAL É MOTIVO DE DEBATE
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Fonte: O Globo, 02/04/2005, Economia, p. 35

Papa não gostaria de ter a vida mantida por ações invasivas

CIDADE DO VATICANO. A decisão do Papa João Paulo II de não ser levado para o Hospital Gemelli, para onde já fora transferido diversas vezes durante seu pontificado, provocou debate sobre seu significado. Além de insinuar que ele acreditaria que sua morte estaria próxima ¿ tradicionalmente, os pontífices morrem em aposentos papais, normalmente no Palácio Apostólico, não em hospitais ¿, o gesto significaria sua postura de não permitir uma intervenção médica de larga escala em si próprio para manter-se vivo.

Segundo o Vaticano, João Paulo II foi informado sobre a gravidade de sua situação. Ainda assim, optou por permanecer em seus aposentos no terceiro andar do Palácio Apostólico e de frente para a Praça de São Pedro. A informação foi transmitida pelo porta-voz da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, que sublinhou a gravidade da declaração com lágrimas no olhos.

Do ponto de vista espiritual, o Papa de 84 anos já vinha preparando o mundo para este momento.

Papa falou de ética e moral no momento da morte

Com o agravamento do mal de Parkinson, nos últimos anos o Pontífice divulgou textos e fez discursos nos quais, num ritmo crescente, analisava a ética e a moral nos momentos finais da vida. Segundo seus ensinamentos, ¿a vida mantém sua dignidade intrínseca até o momento da morte.¿

Dentro desta lógica, ele estimulou investigações científicas para que se conseguisse ¿prolongar a vida humana.¿ O Pontífice também chegou a dar sua opinião sobre casos de estado vegetativo permanente, que recentemente mobilizaram a atenção mundial com a morte da americana Terri Schiavo, que por 15 anos viveu assim e cujo drama provocou uma batalha entre seu marido e seus pais.

¿ O fato de ele não ter retornado para o hospital significa que ele carrega serenamente sua cruz e que está pronto para dizer: ¿Isto está terminado¿ ¿ afirmou ontem o bispo irlandês John Magi, que foi um dos secretários particulares do Pontífice entre 1978 e 1982.

João Paulo II tem à sua disposição uma equipe completa de médicos no Vaticano. Há também dois especialistas em tratamento intensivo e um cardiologista.

Durante anos, ele utilizou a deterioração de sua saúde como fonte de inspiração para os fiéis. Agora, sua decisão de não voltar ao hospital traria com ela uma mensagem forte para idosos e pessoas gravemente doentes, segundo médicos.

¿ Está sendo um exemplo maravilhoso. Lamentavelmente há muita gente que morre em hospitais sem estar rodeada pela família, isolada ou conectada a máquinas ainda que esteja se deteriorando ¿ disse a geriatra americana Barbara Paris.