Título: CÓDIGOS PARA FALAR AO TELEFONE E ATÉ PARA PEDIR AJUDA
Autor: Letícia Helena
Fonte: O Globo, 03/04/2005, O País, p. 15

Senha para acessar computadores era nome de time chileno

Tratado como Jefatura (chefia, em espanhol), Maurício Hernández Norambuena era um dos chefes da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), uma organização chilena de extrema-esquerda que surgira nos anos 80 com o intuito de derrubar o ditador Augusto Pinochet. Condenado duas vezes à prisão perpétua, Norambuena escapou de um presídio de segurança máxima em Santiago e, no início de 2001, chegou ao Brasil.

A luta armada o tornara especialista em táticas de guerrilha. No livro, essa experiência fica evidente nas instruções de Norambuena. Ele explica, por exemplo, como falar ao celular, usando códigos ¿ ¿hotel¿, seria um encontro emergencial entre 20h30m e 8h30m e ¿oficina¿, um ponto de rompimento, entre outros ¿ evitando dialetos e, principalmente, mantendo conversas curtas mas ¿sem uso excessivo de monossílabos¿.

Os códigos incluíam frases para situações de risco. ¿Estou com vírus¿ era a senha para um integrante avisar ao bando que estava sendo seguido. ¿Estão me levando para o hospital¿, seria usada em casos de prisão e, se um deles fosse parado numa blitz deveria dizer ¿meu computador queimou¿.

Com tanta organização, o seqüestro ocorreu sem problemas, como lembra ¿Na toca dos leões¿. Às 20h30m de 11 de dezembro de 2001, Olivetto saiu da W/Brasil e embarcou no Ômega cinza-azulado dirigido pelo motorista Antonio. A poucos metros da agência, o carro foi parado numa blitz, com homens armados usando coletes da Polícia Federal. O motorista levou uma coronhada. O publicitário tentou reagir com pontapés, mas foi dominado, encapuzado e jogado na traseira de uma caminhonete Peugeot branca.

Regulamento para ser seguido no cativeiro

Ao chegar ao cativeiro ¿ um cubículo de um metro de largura por 2,3m de comprimento e 2,4m de altura ¿ Olivetto deparou-se com um regulamento. Num texto impresso em computador, de pouco mais de cem palavras, os seqüestradores determinavam que ele deveria ¿manter-se em completo silêncio permanentemente¿ e que também deveria ¿fazer exercícios diários para manter sua saúde física e mental¿, entre outras normas.

Nos 53 dias de cárcere, os seqüestradores mantiveram um diário, registrando até as músicas que Olivetto ouvia. Para encontrar todas essas informações, porém, a polícia teve trabalho. No livro, Fernando Morais conta a dificuldade para descobrir a senha dos bandidos. Após tentar dezenas de combinações envolvendo nomes e datas, um policial resolveu tentar o nome do time mais popular do Chile, o Colo Colo. Acertou em cheio.

Norambuena e cinco comparsas, entre eles duas mulheres, foram condenados a 30 anos de prisão em regime fechado.