Título: A PAIXÃO DO MAIOR PLANTADOR DE PALMEIRAS DO PAÍS
Autor: Letícia Helena
Fonte: O Globo, 03/04/2005, Rio, p. 31

Em Guaratiba, advogado mantém horto com mais de 20 mil pés de 150 espécies e vira referência nacional

O advogado Moysés Abitbol não parecia estar em seu perfeito juízo quando resolveu desafiar as leis ¿ do mercado e da natureza ¿ para trocar o próspero ramo da construção civil pelo cultivo de coqueiros vindos da Paraíba. Já lá se vão 15 anos, tempo suficiente para perceber que ele fez um julgamento correto: hoje, Moysés é o maior plantador de palmeiras do país, com mais de 20 mil pés de 150 espécies nativas ou exóticas, criadas na Ilha de Guaratiba. E, justiça seja feita, não são palmeiras quaisquer. Oriundas da Austrália, de Madagascar, Ilhas Seychelles, Caribe, Nova Zelândia e Estados Unidos, viraram um negócio da China. País que, por sinal, também está representado no Horto das Palmeiras, referência nacional quando o assunto é este tipo de árvore.

¿ Uma palmeira da espécie rabo-de-raposa, importada da Austrália, custa, cada uma, R$5 mil. Vendi 45 para um condomínio da Barra ¿ conta Moysés, que tem filhotes espalhados no Hotel Caesar Park, nos condomínios Atlântico Sul e Santa Mônica Jardins, no BarraShopping, no Nova América e nos dois Rio Design Center, só para ficar nos clientes cariocas.

Horto é freqüentado por botânicos e paisagistas

A paixão do advogado por palmeiras começou, digamos, à sombra de um coqueiral. Moysés possuía uma área na Ilha de Guaratiba e resolveu trazer dez mil coqueiros da Paraíba. Numa viagem à Flórida, deu-se conta do parentesco entre coqueiros e palmeiras e resolveu estudar o assunto. Hoje, seu horto é freqüentado por botânicos e paisagistas de todo o país, da América do Sul e da África.

¿ As palmeiras são minha vida ¿ derrama-se Moysés.

Tanto xodó já tem declarações públicas de amor, na Praça General Osório ou na Praça Central de Macaé. Mas, insatisfeito, o advogado resolveu explicitar ainda mais sua paixão, adotando o trevo da Rua Mário Ribeiro, na Lagoa. Ele já tem autorização da prefeitura para fazer um pequeno jardim de palmeiras na área.

¿ Infelizmente, os cariocas dão pouco valor às palmeiras. Devem pensar que é tudo coqueiro ¿ lamenta.

Uma pena mesmo, porque cultivar esta paixão leva tempo. Uma espécie comum precisa de cinco anos para atingir 12 metros. O que dizer então de uma tamareira, uma palmeira típica da Tunísia e de outras áreas de deserto, que leva até 20 anos para frutificar?

¿ É um trabalho de paciência ¿ diz Moysés, admirador das palmeiras imperiais do Jardim Botânico e da Rua Paissandu, no Flamengo.

Apesar de resistentes, as palmeiras requerem cuidados especiais ¿ e, hoje, Moysés mantém uma equipe de botânicos preparada para atender emergências, num serviço que batizou de SOS Plantas. No horto, com 175 mil metros quadrados, elas contam com irrigação especial, com água de nascente. Também são cultivadas em grupos, tentando reproduzir ao máximo as condições ambientais de cada espécie. E a estufa é eletronicamente controlada.

¿ Fazer jardins é uma tarefa que exige sensibilidade. E isso é um dom com o qual se nasce ¿ filosofa Moysés.

Em seus 15 anos de plantador de palmeiras, o advogado já foi diversas vezes à Flórida, a meca mundial deste tipo de árvore. Numa das vezes, passou 90 dias por lá, aprendendo técnicas de cultivo. Mas, com o passar do tempo, resolveu partir para experiências, mesclando o rigor científico americano à criatividade brasileira.

¿ Estou cultivando palmeiras em pares ou trios. Elas crescem em direções diferentes, formando esculturas. Para paisagismo, é perfeito ¿ conta Moysés, que também anda misturando espécies de tamanhos diferentes para compor jardins.

Para bancar o Professor Pardal das plantas, Moysés estuda com afinco as peculiaridades de cada espécie. E não se furta a chamar a atenção dos visitantes do horto para cada detalhe. Ora é a textura da folha, ora o formato do caule, ora o tamanho da planta ¿ como no caso da palmeirinha-metálica, do México, que não passa de 50 centímetros.

Ao olhar leigo, a rabo-de-peixe, nativa da Índia, da Birmânia ou do Sri Lanka, parece tudo, menos uma palmeira, com seus cachos em tons do verde ao vermelho-escuro. Outra espécie, conhecida popularmente como laca, ou palmeira-escarlate, é uma das mais cobiçadas. Oriunda da Malásia, da Sumatra, da Tailândia ou de Bornéu, tem o caule vermelho brilhoso. Sem falar na tal rabo-de-raposa, que nasce no Nordeste da Austrália, pode atingir nove metros e, por sua beleza, é a mais cara.

Favorita é uma palmeira típica de Madagascar

Já a palmeira-azul ou palmeira de Bismarck, originária de Madagascar, destaca-se pelo tronco semelhante a um abacaxi gigante e pelas folhas que parecem leques. Caminhando por um jardim de palmeiras-azuis, o advogado até nega, mas não consegue disfarçar que são suas favoritas:

¿ A primeira muda chegou há 12 anos. Quebrei a cabeça para cultivá-las, mas deu certo. Quando o sol bate, as folhas brilham. O efeito é indescritível.

Um efeito que ele gostaria de espalhar pela ruas do Rio, em especial no Centro. Transformar a Avenida Rio Branco numa alameda de palmeiras imperiais povoa a imaginação de Moysés, que também devaneia com outras espécies nativas, como o butiá-da-serra ou o buriti, compondo um cenário tropical. Enquanto o sonho não vira realidade, o advogado prefere apostar em idéias mais pé no chão. Até o fim do ano ele inaugura a escola Jardineiro do Futuro. A idéia é semear entre os meninos pobres da Ilha de Guaratiba a oportunidade de cultivar uma profissão.

¿ Quer ofício melhor do que lidar com a natureza? ¿ indaga o advogado.