Título: AVANÇO NO CRÉDITO É RESULTADO DO EMPOBRECIMENTO
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 03/04/2005, Economia, p. 40

Gasto com remédio e plano de saúde subiu 700% desde 1995

O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical, João Batista Inocentim, diz que o avanço do crédito consignado em folha de pagamento do INSS é resultado do empobrecimento. Segundo ele, quem ganhava oito salários-mínimos de benefício em 1994 hoje recebe menos de cinco, em conseqüência da escolha de índices de atualização que penalizaram os inativos.

Ele lembra que, entre 1995 e 2004, os salários dos trabalhadores tiveram reajuste de 160%, enquanto os benefícios previdenciários subiram 110,65%. Se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que passou a corrigir os benefícios e pensões em 2003, fosse aplicado desde 1995, os aposentados teriam de receber um adicional de 2,81% já. Nesse período (1995 a 2004), as despesas mais comuns feitas por aposentados, como gastos com remédios e planos de saúde, ficaram pelo menos 700% mais caras.

¿ O benefício não dá para custear as despesas dos idosos e o crédito consignado se torna uma solução milagrosa a curto prazo. Mas, na verdade, vai levar os aposentados para a fila do matadouro, porque as taxas de juros, apesar de mais baixas que as existentes em outras modalidades, são extorsivas para a realidade dos aposentados ¿ afirma ele, acrescentando que ¿emprestar para inativos tornou-se o melhor negócio do mundo, mas só para os bancos¿.

Taxas de juros variam e podem elevar desembolsos

A aposentada Maria da Conceição Fonseca parece refletir à risca o retrato sombrio pintado por Inocentim. Ela começa a pagar no mês que vem o empréstimo que fez e estuda alternativas quase dramáticas para sobreviver sem menos R$165 do benefício de R$800.

¿ Ou vou ter de deixar de pagar o plano de saúde ou passar a comer feijão com arroz ¿ diz ela, para dar uma idéia do aperto financeiro e, por fim, admitir a crescente necessidade de receber ajuda dos dois filhos.

Inocentim lembra ainda que, mesmo no crédito com desconto em folha de pagamento, os inativos podem pagar mais, dependendo da instituição escolhida. Um levantamento feito pelo sindicato presidido por Inocentim mostra que existe uma dança de taxas de juros capaz de sangrar ainda mais o bolso dos aposentados e pensionistas. Em sete instituições avaliadas, os juros oscilam de 1,75% a 2,8% por mês. Isso, no caso de um empréstimo de R$5 mil a ser quitado em 36 meses, faz toda a diferença.

Na Caixa Econômica Federal, o pensionista ou aposentado pagará R$8,4 mil, com parcelas de R$232,40. Ou arcará com um total R$12,7 mil na Fininvest (R$350 por mês), segundo Inocentim. (Vagner Ricardo)