Título: INDÚSTRIA BRASILEIRA VOLTA À PRANCHETA EM BUSCA DE MAIS COMPETITIVIDADE
Autor: Carlos Vasconcellos
Fonte: O Globo, 03/04/2004, Economia, p. 43

Empresas investem em design para aumentar lucro e ganhar mercado no exterior

design na Alemanha abriu portas para luminárias brasileiras

Como convencer um cliente a comprar, por um preço até dez vezes maior, o mesmo produto ao qual ele está acostumado? Resposta: vendendo o mesmo produto, só que redesenhado. E é o que cada vez mais empresas brasileiras estão fazendo ao investir tempo e dinheiro na prancheta de desenho. Empresas como a Brastemp mantêm pesquisas sobre os hábitos dos consumidores, até mesmo sobre os modos peculiares de utilização dos eletrodomésticos nas casas, e levam esses fatores em consideração no desenvolvimento de produtos.

Não por acaso, apesar da pouca tradição de pesquisa e desenvolvimento no país, este ano o Brasil ficou no oitavo lugar em premiações no iF Product Design Award, concedido pelo Fórum de Desenho Industrial de Hannover, Alemanha, um dos mais importantes do mundo. Ao todo foram 14 prêmios, e o Brasil foi o único latino-americano laureado, à frente de França, Inglaterra e Itália.

Para uma das empresas premiadas, a fabricante de luminárias Lumini, de São Paulo, o investimento em design representou a entrada no mercado europeu. Até 2002, a companhia atuava apenas no Brasil e no segmento de indústrias e escritórios. Com a contratação do designer Fernando Prado, a Lumini criou uma linha decorativa que já representa 20% de seu faturamento total.

Projeto premiado ajuda a abrir mercados no exterior

Além disso, a companhia passou a investir 3% das vendas em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Hoje, a Lumini exporta para Alemanha, França, Suíça, Holanda, Bélgica, Chile e Uruguai.

¿ O prêmio abriu portas para a empresa na Europa ¿ diz Prado.

¿ Com um bom design é possível cobrar três ou quatro vezes mais pelo nosso produto, pois o cliente está comprando uma idéia, e não um simples objeto ¿ completa Ricardo Gutfreund, diretor de Marketing da Lumini.

O desenho também faz parte da receita que rejuvenesceu a tradicional fabricante de borrachas de apagar Mercur, do Rio Grande do Sul. No fim dos anos 90, a companhia estava estagnada. Seu crescimento era vegetativo e menor que o ritmo da economia do país, e a lucratividade havia desabado.

O redesenho do tradicional logotipo (o deus grego Mercúrio, que era confundido pelos consumidores com um guerreiro índio) tornou a marca mais arrojada. A empresa então partiu para a criação de novos produtos, agregando valor ao que havia se tornado comum e sem atrativo.

¿ Hoje gastamos cerca de 5% do faturamento em desenho de produtos ¿ diz Sérgio Smidt, diretor da divisão de produtos escolares e de escritório da Mercur.

Deu resultado. Em quatro anos, as vendas dobraram, e em 2004 chegaram aos R$60 milhões. A Mercur também ampliou o leque de exportação, chegando a 24 países com produtos de design premiado, como a borracha Yin-Yang e a linha Toys, de borrachas de apagar que funcionam como brinquedos de montar.

¿ Para quebrar a relação estabelecida dos clientes internacionais com as empresas da Ásia, tenho de oferecer algo mais que uma commodity ¿ explica Smidt

A importância do design, no entanto, não se limita ao produto. Uma boa embalagem pode ser decisiva. Como no caso da Hershey's, marca americana de chocolates que, no Brasil, não investe em publicidade. Ou seja: sua mídia são as próprias embalagens e o material de ponto de venda. Em dois anos, a empresa saiu de zero para 13% de mercado no segmento de barras de 170 gramas.

¿ A embalagem tinha muito dourado, o produto era visto como premium, mesmo com preço igual ao do concorrente. Mudamos isso e a marca ficou acessível ¿ diz Pedro Carvalho, da Design Absoluto, empresa de desenho de embalagens que atende à Hershey's e já cuida de projetos internacionais para empresas como a Unilever.