Título: Luz no túnel
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/04/2005, O Globo, p. 2

A rearticulação política do governo na Câmara avançou no processo de votação da Medida Provisória 232. A oposição e as viúvas da reforma ministerial insistem na tese do caos na base governista. Mas o que se viu foi uma ação organizada dos aliados para evitar uma derrota do governo e impedir que a oposição faturasse a aprovação da correção da tabela do Imposto de Renda (IR).

O governo perdeu na sociedade o debate sobre a 232. Foi por isso que os líderes aliados decidiram rejeitá-la, para que o governo enviasse uma nova medida corrigindo a tabela do IR e um projeto de aumento dos impostos na área de serviços e da agricultura. E, depois, passaram para a obstrução, quando o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), permitiu a votação desmembrada, pela qual os deputados aprovariam ou rejeitariam, em separado, a correção da tabela do IR. Não há dúvida de que o governo teve de recuar, mas deve se reconhecer que isso foi feito de maneira organizada. A base aliada evitou a batalha e, com isso, a derrota.

¿ Nós superamos o caos ¿ diz o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Ao contrário da dispersão e da falta de comando de duas semanas atrás, quando foi votada a emenda paralela da Previdência, a base aliada esteve unida. Na primeira votação, apenas 70 deputados dos partidos da base votaram contra a obstrução comandada pelo governo. Esse número caiu para 53 na segunda votação. Houve um avanço se compararmos com a votação da Previdência, quando 201 aliados votaram contra o governo no destaque da paridade salarial para as pensões e 295 aliados votaram contra o governo para incluir os delegados no subteto dos desembargadores.

Chinaglia e o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), tiveram um papel importante nessa batalha política. Ambos impediram que os petistas sucumbissem ao discurso da oposição e votassem a favor da correção da tabela do IR, sem garantir as compensações para a queda da arrecadação. Essa proposta foi discutida numa reunião da bancada petista na quarta-feira. Ela foi defendida por petistas ligados ao ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Se essa visão tivesse prevalecido teria sido o caos. O PT teria aderido à tese da oposição, os demais partidos aliados se sentiriam traídos, a base se dividiria e não seria possível manter a obstrução. Nessa situação, o governo perderia o controle da base aliada e a desarticulação seria completa.

A articulação para isolar Anthony Garotinho tem mais um capítulo. O presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, será recebido hoje pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Oposição elogia postura de Severino

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tem dito muita coisa que não é politicamente correta e está agindo contra os interesses do governo Lula na Câmara. Mas, para a oposição, Severino está se saindo melhor que a encomenda e, com suas atitudes, resgatando o papel da Câmara na discussão de políticas públicas.

¿ Nos dois últimos anos, a Câmara abdicou do direito de aperfeiçoar as propostas do governo. Virou uma casa de homologação automática da vontade do Executivo ¿ avalia Roberto Brant (PFL-MG).

É fato. Foram os senadores que aperfeiçoaram as leis de falências, biossegurança, das parcerias público-privadas e as reformas tributária e da Previdência.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), critica Severino por ter permitido que sua imagem virasse folclore, mas faz questão de reconhecer que pela primeira vez em muitos anos a Câmara tem um mínimo de autonomia para votar.

¿ O Severino é mais sensível à sociedade que ao governo. O PT só é sensível ao governo ¿ diz Goldman.

Ciro no PSB

O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, confirmou para a governadora do Rio Grande do Norte, Wilma Faria, que vai se filiar ao PSB. Ambos estiveram juntos visitando um projeto de irrigação em Assú, na sexta-feira. Além do ministro e do governador Eduardo Braga (AM), outros cinco deputados devem deixar o PPS: Júlio Delgado (MG), B. Sá (PI), Geraldo Rezende (SP), Cláudio Magrão (SP) e Átila Lins (AM). O PPS tem hoje 17 deputados.

A CPI do setor elétrico, constituída na confusão gerada pela reforma ministerial, tem tudo para não sair do papel. A CPI ainda não tem presidente eleito nem relator escolhido, e já teve três reuniões sem quórum. O petista Mauro Passos (SC) resume: ¿os tucanos não querem investigar o governo Fernando Henrique e o governo Lula está preocupado com a reação do mercado¿.

NUM ENCONTRO com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), o governador Joaquim Roriz (DF) defendeu a tese de que há espaço para o partido lançar um candidato a presidente. Insistiu que Sarney e Renan poderiam ser este candidato, mas não ouviu de nenhum deles a frase mágica: ¿este candidato poderia ser você, Roriz¿.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

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A Casa Civil produziu estudo sobre os gastos com publicidade nos governos Fernando Henrique e Lula. Foram comparados os dados de 2000 a 2004 e os valores atualizados pela inflação. Os números mostram que os tucanos gastavam mais em publicidade. O governo Lula gastou R$318,5 milhões em 2004 e R$237,3 milhões em 2003. O de FH, R$365,4 milhões em 2002, R$404,6 milhões em 2001 e R$365,5 milhões em 2000.