Título: MANIFESTANTES PEDEM JUSTIÇA EM NOVA IGUAÇU
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 04/04/2005, Rio, p. 8

Homem que fotografava protesto é detido e acaba sendo liberado pela polícia

Moradores da Rua Gama, em Nova Iguaçu, onde nove vítimas da chacina morreram no Bar Caíque, fizeram ontem manifestação para pedir justiça. Cerca de 200 pessoas reuniram-se na porta do bar, participaram de um culto e depois seguiram em passeata por cerca de um quilômetro até a 58ª DP (Posse). Durante o ato, um homem foi detido, acusado pelos manifestantes de estar fotografando e gravando o protesto.

PMs que passavam na hora abordaram o suspeito, que não teve o nome revelado pela polícia, e o levaram para a 58ª DP (Posse). Com ele foram apreendidos dois carregadores de pistola vazios e o celular que usava para fotografar a manifestação. Por ordem do delegado Roberto Cardoso, titular da delegacia da Posse, o homem foi transferido para a Delegacia de Homicídios. Após ter deixado a 58º DP (Posse) algemado, foi liberado na Delegacia de Homicídios. Segundo o delegado Roberto Cardoso, ele estaria a serviço do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (Sisp).

Com faixas e cartazes estampando fotos e nomes das nove vítimas do Bar Caíque, os manifestantes seguiram em caminhada rezando e pedindo justiça. A chegada na porta da delegacia deixou em alerta os dois únicos inspetores de plantão. A Avenida Henrique Duque Estrada Mayer foi parcialmente interditada ao trânsito e após 30 minutos de espera os manifestantes ouviram dos policiais civis que nenhum detalhe das investigações seria divulgado.

Moradores da Rua Gama contaram que na noite de sábado, comerciantes foram aconselhados a fechar as portas mais cedo por causa de uma invasão ao Hospital da Posse. A tentativa de invasão ao hospital, segundo moradores, seria para capturar uma das testemunhas da chacina. Já os policiais de plantão na 58ª DP (Posse) disseram que um homem com deficiência mental invadiu o Hospital da Posse.

No município de Queimados, onde morreram 12 vítimas da chacina, o clima também era tenso ontem. Na Rua Caio Sampaio, na localidade de Campo da Banha, uma faixa preta em sinal de luto lembrava a morte de cinco pessoas que conversavam na porta de um pequeno bar. Na Avenida Ministro Odilon Braga, o lava-jato onde mais quatro pessoas foram assassinadas permanece fechado. Uma patrulha da PM circulava pelas ruas de Queimados com parte da identificação raspada: só era possível perceber que se tratava de um carro do 24ºBPM (Queimados) através de uma sombra deixada pelo número 24 raspado. Perguntado se o fato não seria um temor dos policiais por serem lotados no mesmo batalhão dos dois policiais suspeitos de terem praticado a chacina, o comandante do batalhão, coronel Hippertt, disse apenas que a irregularidade será corrigida.