Título: APAGÃO DEIXOU 1 MILHÃO SEM LUZ
Autor: Germano Oliveira e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 04/04/2005, Economia, p. 15

Blecaute em São Paulo foi o 11º no país, somente nos três primeiros meses do ano

Opaís viveu mais um apagão na noite de sábado, o 11º este ano, com a explosão de equipamentos de pára-raios em uma subestação de energia elétrica na cidade de São Caetano do Sul, no ABC paulista. O blecaute atingiu vários bairros da capital paulista e cidades do ABC, deixando mais de um milhão de pessoas sem luz durante quase duas horas. Segundo o secretário de Energia do estado de São Paulo, Mauro Arce, o blecaute foi provocado por um problema localizado (danos aos pára-raios já totalmente reparados) e que não há riscos ao abastecimento de energia em São Paulo.

Em Brasília, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deverá analisar os dados para verificar se houve falhas da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, empresa do governo de São Paulo, e se ela deve ser responsabilizada. As informações foram dadas ontem por um técnico do governo federal.

¿ A queda de energia se deu por causa da explosão de três pára-raios, um simples acidente. Depois, quando tentamos religar o sistema, ocorreu uma nova explosão de outros dois pára-raios, o que prolongou o desabastecimento por um tempo maior do que o normal para se religar uma subestação ¿ disse Marco Arce ontem.

Especialista: falta investimento no setor

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires, a seqüência de apagões este ano já não pode ser mais considerada obra do acaso, e sim o reflexo de falta de investimentos no setor elétrico.

¿ Apagões como o de São Paulo mostram que há falta de investimentos novos no setor, o que antes não era visível porque o consumo no Brasil estava baixo. Com a retomada do crescimento econômico a partir de 2004, o consumo aumentou, assim como a demanda por energia elétrica. Este ano, a perspectiva é de manter a trajetória de crescimento, o que reforça a necessidade de investimentos no setor. Caso contrário, o setor elétrico corre o risco de se tornar uma muralha a esse crescimento, como foi em 2001 ¿ disse o analista.

A explosão dos três primeiros pára-raios aconteceu às 19h50m, quando houve o primeiro desligamento da Subestação do Terminal Sul, administrado pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, empresa do governo de São Paulo, e que fornece energia para a Eletropaulo. Essa subestação recebe energia de Itaipu e de outras hidrelétricas no interior de São Paulo, e tem capacidade para armazenar até 1.600 megawatts, o que pode abastecer 10% de todo o estado de São Paulo (com 30 milhões de habitantes).

A queima dos pára-raios provocou curtos-circuitos no sistema, o que derrubou as barras de transmissão. O secretário Mauro Arce, que também é o presidente da Companhia de Transmissão, responsável pela subestação acidentada, disse que a empresa ainda não sabe o que provocou a explosão dos pára-raios.

¿ Sabemos que não foi a queda de raio, porque não chovia no momento do acidente. O que pode ter acontecido é uma sobrecarga nos pára-raios, o que provocou aquecimento e o curto-circuito que derrubou a transmissão de energia. Ainda estamos investigando o que realmente aconteceu, mas o acidente não significa que há falta de energia ou nas linhas de transmissão. Aliás, neste momento está até sobrando energia no país ¿ disse Arce.

Com o primeiro desligamento de energia, vários bairros de São Paulo e do ABC ficaram sem luz, entre os quais Ipiranga, Cambuci, Vila Mariana, Sacomã, Congonhas (o Aeroporto tem geradores e não ficou paralisado), além de parte das cidades de São Caetano, Santo André e Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Algumas estações de metrô de São Paulo ficaram sem funcionar durante duas horas.

Às 20h19m, os técnicos tentaram o restabelecimento de energia, com transferência de energia de outras subestações da Leste e Bandeirantes, mas o religamento não foi possível devido à segunda explosão de outros dois pára-raios. Apesar da subestação ter capacidade para receber até 1.600 megawatts, ela deixou de fornecer em torno de 460 megawatts, que era a demanda do sábado à noite.

¿ No momento do acidente, a subestação não estava a plena carga, porque as indústrias não estavam operando ¿ disse Arce.

Depois da segunda explosão, os técnicos levaram mais uma hora para reestabelecer o funcionamento totalmente.

¿ Com isso, só conseguimos reestabelecer a energia na subestação às 21h50m, quando tudo foi normalizado ¿ disse Mauro Arce.

O secretário explicou que, como o acidente ocorreu sábado à noite, sem atividade industrial, o problema maior foi para os moradores dos bairros atingidos, prejudicando 10% da população de São Paulo (10 milhões).

COLABOROU Mônica Tavares