Título: A LONGA JORNADA POR ATENDIMENTO
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/04/2005, O País, p. 4

No Distrito Federal, caos no setor

BRASÍLIA. Saída de São Domingos (GO), na divisa com a Bahia, Daise Neves da Silva chega com a filha recém-nascida ao Hospital de Base, em Brasília, numa ambulância da prefeitura. Depois de viajar 350 quilômetros, foi mandada para o Hospital Regional da Asa Sul. A cena é muito mais comum do que se imagina: segundo Jorge Solla, do Ministério da Saúde, o fenômeno de pacientes de um município atendidos em outro se repete em outros estados. Na divisa, por exemplo, hospitais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ficam congestionados com a chegada de pacientes até do Paraguai.

A menos de dois quilômetros do prédio onde trabalha o ministro Humberto Costa, o Hospital de Base, o maior da capital, teve a residência médica em cardiologia descredenciada pelo Ministério da Educação por causa de falta de equipamentos e remédios.

A saúde no Distrito Federal vive uma crise causada por denúncias de desvio de recursos. Auditoria do SUS mostra que não foram feitos convênios com os hospitais particulares que prestam serviços ao sistema público. Além disso, valores pagos pelos procedimentos foram os de mercado e não os da tabela, e o então secretário de Saúde, Arnaldo Bernardino Alves, destinou 98,63% das internações para o Hospital Santa Juliana, do qual sua irmã, Adaíza Alves, é diretora financeira. No pátio da Secretaria de Saúde, 37 ambulâncias estão paradas há cinco meses. Cada uma custou R$114 mil.

O porta-voz do governo do Distrito Federal, Paulo Fona, disse que as denúncias estão sendo investigadas e atribuiu o problema com as ambulâncias à falta de equipamentos que não foram fornecidos pelo Ministério da Saúde.