Título: Em Teresina, cirurgias suspensas por falta de gaze
Autor: Efrém Ribeiro e Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 05/04/2005, O País, p. 5

Santa Casa de Campo Grande, maior hospital de Mato Grosso do Sul, recebe doentes do Paraguai e da Bolívia

TERESINA e CAMPO GRANDE. Em crise diante da procura por atendimento de pacientes saídos do Maranhão, de Tocantins e do Pará, a Prefeitura de Teresina resolveu apostar em pequenos hospitais e postos de saúde espalhados pela cidade, que tem uma população de 775 mil habitantes. O Hospital Getúlio Vargas, o principal da capital, suspendeu na semana passada cirurgias eletivas por falta de gaze. O material está sendo utilizado para os casos de urgência e emergência no pronto-socorro, o único da cidade.

Idoso fica na porta de hospital em carrinho de mão

Na semana passada, a população ficou chocada quando viu, em jornais e na TV, o aposentado Francisco Inácio de Sousa, de 71 anos, ser levado num carrinho de mão por seus parentes e ficar mais de duas horas na porta do Hospital Municipal do Promorar, na periferia de Teresina, com fortes dores de cabeça provocadas por um tumor, por falta de ambulância e de médicos.

O prefeito Sílvio Mendes disse que, se a Prefeitura de Teresina não tivesse feito a descentralização do atendimento, o tumulto seria maior. A rede de saúde do município é responsável pelo atendimento de 70% dos pacientes de Teresina.

Mendes (PSDB) e o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), vão se encontrar hoje com o ministro da Saúde, Humberto Costa, para discutir a rede de assistência de Teresina. O Hospital Getúlio Vargas está sendo construído há 12 anos. A obra já consumiu R$15 milhões, e faltam R$5 milhões para concluir o prédio e comprar equipamentos.

Em Mato Grosso do Sul, a Santa Casa de Campo Grande está sob intervenção desde janeiro e busca empréstimo no BNDES para pagar as dívidas que chegariam a R$46 milhões. O afastamento da diretoria nomeada pala Sociedade Beneficente de Campo Grande, mantenedora do hospital, foi decidida em reunião entre o prefeito da capital, Nelson Trad Filho (PMDB), e Humberto Costa em janeiro.

O coordenador da Comissão de Intervenção, Rubens Trombini, disse que o total da dívida será apurado por uma auditoria. Segundo ele, a comissão renegociou dívidas e tem pago os salários dos funcionários e os fornecedores em dia.

Paraguaia teve que sair do país e deixar bebê no hospital

Levantamentos preliminares mostram que a Santa Casa deve em torno de R$10 milhões em tributos, R$9 milhões em empréstimos bancários e cerca de R$27 milhões a fornecedores. No ano passado, médicos chegaram a suspender os atendimentos. Em alguns momentos, foi preciso a intervenção do Ministério Público Estadual para assegurar a realização de cirurgias, até com a polícia.

Maior hospital do estado, a Santa Casa é procurada por pacientes de outras cidades e também do Paraguai e da Bolívia. No fim do ano passado, para evitar que pessoas de outros países fossem atendidas pelo SUS, a Polícia Federal fez a operação SUS Brasil. Em novembro, a lavradora paraguaia Cândida Bariero foi forçada pela polícia a sair de Mato Grosso do Sul deixando o bebê de dois meses na Santa Casa.

Assustada com a ação dos policiais, a mãe ficou com medo de retornar ao Brasil para buscar o filho. Cândida voltou à Santa Casa para pegar o bebê 26 dias depois de ser expulsa. Mas antes teve que regularizar a entrada no Brasil. Segundo Rubens Trombini, além de muitos dos estrangeiros apresentarem comprovantes de domicílio em Campo Grande, o hospital não tem recusado atendimento por razões humanitárias.