Título: ASSASSINOS ESTAVAM BÊBADOS
Autor: Célia Costa e Vera Araújo
Fonte: O Globo, 05/04/2005, Rio, p. 12

Testemunhas dizem que criminosos também poderiam estar drogados

Os policiais que participaram do massacre de 30 pessoas na Baixada Fluminense estavam bêbados e possivelmente drogados quando iniciaram a matança. A informação chegou aos responsáveis pelas investigações através de denúncias de testemunhas. Elas disseram aos investigadores que os matadores ¿ um grupo de dez a 15 policiais ¿ teriam se reunido no início da noite de quinta-feira num bar de Nova Iguaçu. A decisão de realizar o massacre foi tomada como uma resposta às medidas saneadoras implantadas pelo comando da PM no 15º BPM (Caxias) e em outras unidades da Baixada Fluminense.

A crise no batalhão de Caxias é apontada pela Secretaria de Segurança como a provável motivação para a execução de 30 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados. Na semana passada, um grupo policiais do batalhão foi preso acusado de executar duas pessoas, degolá-las e atirar uma das cabeças no interior do quartel.

Quatro carros foram usados na chacina, segundo as testemunhas: um Vectra, um Gol prata ou branco e um Audi. Há dúvidas com relação a marca do quarto veículo, que poderia ser um Gol.

No depoimento que prestaram aos policiais federais, os quatro PMs presos negaram participação no crime. O cabo Felipe (José Augusto Moreira Felipe), lotado no 24º BPM (Queimados), admitiu que embora estivesse de licença médica (recebeu um tiro no braço), esteve na noite do crime no local das mortes. Alegou que fora chamado por um oficial do batalhão para ajudar nas investigações. Sua versão, assim como a de outros, está sendo investigada.

¿ Fui ao local chamado por um oficial por amor à camisa, por isso é possível que alguém tenha me visto lá ¿ disse em seu depoimento.

Segundo informaram testemunhas, o grupo seria formado principalmente por policiais lotados no 24º BPM, mas a PF já trabalha com a possibilidade do envolvimento de PMs de vários batalhões da Baixada. Seriam velhos conhecidos da população, com atuação em grupos de extermínio e autores de outros crimes violentos. Hoje a PF espera chegar a outro policial envolvido nas mortes e também reconhecido pelas testemunhas.

Com o envio de um grupo de peritos para a Delegacia da PF em Nova Iguaçu, os policiais esperam encontram nos carros apreendidos até o momento provas da sua utilização na chacina. O Vectra, apreendido sábado pela PF, estava em poder de um PM armado. O policial que prestou depoimento e está detido administrativamente, disse que havia emprestado o carro para um colega do Batalhão de Queimados.