Título: Força-Tarefa acaba horas após ser anunciada
Autor: Antônio Werneck e Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 05/04/2005, Rio, p. 13

De manhã, Secretaria de Segurança e Polícia Federal divulgam criação de grupo especial; à tarde, PF volta atrás

Marcada para ser um encontro de autoridades na caçada aos autores do massacre de 30 pessoas na Baixada Fluminense, a reunião ocorrida ontem de manhã entre o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, e o superintendente regional da Polícia Federal, José Milton Rodrigues, acabou mostrando que as duas corporações estão desalinhadas. Em entrevista coletiva pela manhã na Secretaria de Segurança, os dois anunciaram a criação de uma força-tarefa para investigar e combater grupos de extermínio no o estado. No fim da tarde, porém, José Milton voltou atrás dizendo que a participação da Polícia Federal vai se resumir à investigação da chacina.

PF alega que seria preciso baixar portaria ministerial

O superintendente da PF argumentou que uma força-tarefa com a participação da Polícia Federal só pode ser formalizada por meio de portaria ministerial e do cumprimento de um ritual legal, como distribuição de atribuições e policiais previamente designados.

¿ O encontro foi para traçar a troca de informações, o trabalho conjunto e a doutrina e comportamento das duas polícias. Mas nós temos um inquérito e a polícia do estado, outro ¿ disse José Milton.

Na reunião, os dois pareciam concordar com a criação de uma força-tarefa não só para esclarecer a matança como também ampliar seu alcance para todo estado, principalmente naquela região, além de na Zona Oeste e em São Gonçalo. Itagiba e José Milton ficaram trancados numa sala por cerca de três horas e na saída, durante uma entrevista, anunciaram o trabalho em conjunto. Horas antes de negar a participação na força-tarefa, o superintendente foi enfático:

¿ A iniciativa da investigação é da polícia do Rio. Mas estamos trabalhando em conjunto por determinação do ministro da Justiça (Márcio Thomaz Bastos). Hoje (ontem), concordamos em participar da Força-Tarefa para uma troca de informações. Poderemos juntar os inquéritos a respeito dos grupos. A Polícia Federal tem dados de inteligência e pode ajudar a fazer um mapeamento das pessoas que participam desses grupos. Temos que trabalhar esses dados e reunir provas ¿ frisou José Milton Rodrigues, diante de dezenas de jornalistas.

Itagiba fez o anúncio e ainda deu detalhes de como poderiam ser feitas as ações conjuntas: busca de informações e de provas concretas sobre a participação de policiais e de civis nesses grupos de criminosos.

O número de agentes na nova Força-Tarefa não foi determinado durante a reunião, mas, segundo o superintendente da PF, José Milton, os federais que fariam parte da iniciativa seriam todos do Rio. Horas antes de desmentir a iniciativa, ele disse achar que a Força-Tarefa poderia trazer bons resultados num futuro próximo.