Título: Rumo a Roma
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 06/04/2005, Panorama Político, p. 2

Afora o problema de acomodar tantos e tão dilatados egos no interior de uma aeronave, o presidente Lula lavrou um tento ao convidar os ex-presidentes Sarney e Fernando Henrique para integrar a delegação brasileira nas exéquias papais. E eles fizeram muito bem em aceitar. Para FH, Lula só ligou depois da resposta positiva à sondagem de seu secretário-particular, Gilberto Carvalho.

Não ligaria para ouvir uma recusa, naturalmente. Já com Sarney não precisou tomar estes cuidados. Tem mais liberdade com o aliado embora tenha mais história em comum com Fernando Henrique. Os cuidados deveram-se às recentes trocas de farpas, que culminaram no discurso em que Lula mencionou irregularidades nas privatizações e na exigência de retratação feita por FH numa dura nota oficial. A confirmação do convite e da aceitação excitou os políticos que participavam de uma homenagem a Luiz Eduardo Magalhães. Foi difundida pelo próprio senador Sarney, que se juntou a ACM e a tucanos como Pimenta da Veiga, Tasso Jereissati e Marconi Perillo nos louvores à iniciativa de Lula, de esquecer diferenças para garantir a elevada representação do maior país católico do mundo nos funerais, transmitindo a idéia de alta civilidade nas relações políticas internas. A idéia saiu da cabeça de Lula mesmo. Alguns tucanos chegaram a dizer que não ficaria bem FH viajar no tal AeroLula que tanto criticaram. Bobagem. O novo avião era tão necessário que FH chegou a se oferecer a Lula para comprá-lo, durante a transição, poupando-lhe do desgaste.

E lá irão eles, certamente não mais num clima de igrejinha, como diria Severino Cavalcanti. A presença de Fernando Henrique talvez imponha mais reserva nas conversas mas não formalidade, dado como ele é à descontração e à quebra de geleiras com sua simpatia.

Se tem seu mérito político, a iniciativa não deixará de criar algum constrangimento protocolar. Desde o início foram reservados pelo cerimonial do Vaticano cinco lugares para a delegação brasileira. Na segunda-feira à tarde, Lula convidou os presidentes da Câmara, do Senado e do STF, que juntando-se a ele e ao chanceler Celso Amorim, totalizam cinco. Depois chamou os ex-presidentes, aos quais se juntará Itamar Franco, já em Roma. Nos cinco lugares de uma das filas reservadas a delegações oficiais ficarão os atuais mandatários. Os outros, com seus egos, terão que ficar mais atrás. A exclusão de Collor é sempre um problema nestas ocasiões. Mas nestas horas aparece sempre o argumento de que ele não concluiu seu mandato, não devendo por isso desfrutar das honras concedidas aos ex-presidentes.

E para encerrar as fofocas com os argentinos: Kirchner resolveu não ir. Mandará o vice e o chanceler. Alegou que o mais importante é comparecer à coroação do novo Pontífice, levando-lhe seu apoio. A deputada Chiche Duhalde, mulher do ex-presidente Eduardo lamentou.