Título: INQUÉRITOS DE HOMICÍDIOS SOFRERÃO DEVASSA
Autor: Dimmi Amora e Vera Araújo
Fonte: O Globo, 06/04/2005, Rio, p. 12

Objetivo é analisar todos os casos em que PMs acusados da chacina estejam envolvidos

A Polícia Civil e o Ministério Público vão fazer uma devassa nos inquéritos de homicídios e autos de resistência (mortes em confrontos com a polícia) da Baixada Fluminense nos últimos cinco anos. O objetivo é analisar todos os casos em que houve o envolvimento dos PMs que estão sendo acusados da chacina de 30 pessoas.

Em levantamento preliminar, a Polícia Civil já descobriu que alguns dos PMs envolveram-se em seis autos de resistência nos últimos dois anos. Os nomes dos soldados José Augusto Moreira Felipe e Fabiano Gonçalves Lopes constam num registro de 25 de julho de 2003, da 55ª DP (Queimados), sobre quatro supostos bandidos mortos em confronto.

A pesquisa foi determinada pelo chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, que desconfia que os PMs suspeitos de participação na chacina integrem um grupo de extermínio da região. Um programa de computador foi desenvolvido por policiais civis e 50 digitadores inseriram no sistema dois milhões de registros de 144 delegacias.

¿ Nosso investimento em inteligência e análise das informações do banco de dados é a melhor arma contra o crime organizado ¿ disse Lins.

Outro auto de resistência ocorreu na área da 54ª DP (Belford Roxo), envolvendo o soldado Carlos Jorge Carvalho, PM suspeito da chacina. O caso ocorreu em 11 de junho de 2003 e as vítimas não foram identificadas. Outro registro, na 40ª DP (Honório Gurgel), é de 30 de dezembro do mesmo ano. Dessa vez, o soldado Júlio César Amaral de Paula, do Getam, matou um suposto bandido em tiroteio.

O cabo José Augusto Felipe e o soldado Fabiano Gonçalves Lopes, ambos do 24º BPM (Queimados), já foram denunciados pelo Ministério Público pela morte de um menor em Itaguaí. O crime teria sido cometido para vingar a morte de um policial.

Policiais acusados da chacina podem estar envolvido ainda em outro caso. Ontem, irmãos da comerciante de jóias Mara Valéria Bittencourt reconheceram um par de brincos e um relógio de ouro, apreendidos anteontem na casa do PM Carlos Jorge Carvalho, como sendo peças do mostruário dela. Eles reconheceram ainda um balança de precisão, também apreendida, como sendo de Mara, que desapareceu em 5 de dezembro juntamente com o filho Enil Fagundes Neto.

Segundo o ex-vereador de Mesquita José Rechuem, marido de Mara, o reconhecimento não foi feito de forma oficial, já que as notas fiscais de compra das peças ainda não foram localizadas. Mesmo assim, ele não tem dúvida de que as jóias pertenciam à sua mulher.

Dezenas de armas de PMs são apreendidas para perícia

Também ontem, PMs apreenderam dezenas de armas de policiais do 24º BPM para fazer testes de balística. Para o exame, serão usados projéteis encontrados nos lugares da chacina. Além disso, testemunhas reconheceram dois dos três carros apreendidos pela Polícia Federal como sendo veículos usados no crime. Eles devem ser periciados hoje à tarde. O delegado Roberto Prel quer saber se o Audi preto, o Vectra branco e o Gol cinza --- todos apreendidos nas casas de policiais ¿ têm vestígios de sangue.

Na 55ª DP, uma outra novidade foi a substituição do delegado titular João Luís de Almeida e Costa por Ademir de Oliveira. Álvaro Lins disse que pediu a mudança ao secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba.

¿ Pedi ao secretário Marcelo Itagiba a substituição porque o delegado não avançou nos inquéritos que apuram a atuação de grupos de extermínio na Baixada Fluminense ¿ disse o chefe de Polícia Civil.