Título: POLONESES RECEBEM MENSAGEM DO PONTÍFICE
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Fonte: O Globo, 04/04/2005, Especial, p. 2

Multidões comparecem às missas pelo Papa. Em Cracóvia, cardeal lê carta de João Paulo II

Diante de 60 mil pessoas, numa missa a céu aberto em Cracóvia, o cardeal Franciszek Macharski, amigo de João Paulo II, leu a última mensagem que o Papa teria escrito a seus conterrâneos poloneses, dias antes de morrer. No texto com data de 31 de março, o Pontífice mencionava sua fragilidade e confiava seu destino a Deus.

¿ O Domingo da Misericórdia está se aproximando e quero sinceramente abençoar todos aqueles reunidos no Santuário de Lagiewniki, em Cracóvia, para amar a Deus por Seu amor misericordioso ¿ leu o cardeal, diante da multidão, que levava flores amarelas e brancas, as cores do Vaticano. ¿ Desejo uma vez mais confiar à Igreja, o amor, todas as pessoas ao redor do globo e eu mesmo, em minha fraqueza, a esse amor.

Em Cracóvia, Varsóvia ou na pequena Wadowice, onde o Papa nasceu, as cenas de fiéis emocionados se repetiam, com demonstrações de afeto pelo Pontífice, que carinhosamente chamavam de ¿nosso Papa¿. A Polônia está de luto, resumiu o ex-presidente Lech Walesa:

¿ É como se a Polônia tivesse perdido sua mãe. Quando uma mãe morre, a família quase sempre se rompe. Tomara que isso não aconteça dessa vez.

Cinco vezes mais missas que o normal

A emoção também era grande na Basílica de Santa Maria, onde Karol Wojtyla celebrou a última missa como cardeal antes de viajar ao Vaticano, em 1978, e ser escolhido Papa. No prédio imponente do final do século XIII, o padre Stanislaw Bercal leu textos do Papa. Nas igrejas da Cracóvia ¿ cidade onde o jovem Wojtyla começou a estudar teatro e, mais tarde, ingressou no seminário ¿ foram celebradas cinco vezes mais missas do que o normal para um domingo, quase todas com comoventes citações do Pontífice.

¿ João Paulo II era tão amado aqui não só por ser polonês. Ele tinha algo indescritível, que poderia ser traduzido como carisma, mas acho que era muito mais. Era uma magia interior, a expressão do seu profundo amor pelas pessoas ¿ disse o padre Ireneusz Stabuszeuski, após uma missa no centro de Cracóvia.

Muitos tinham o olhar fixo na janela da basílica, onde João Paulo II apareceu e acenou para a multidão em sua última visita à Polônia, há dois anos. O banco onde ele costumava se sentar quando foi padre, bispo e mais tarde arcebispo de Cracóvia, ficou vazio. Padres e fiéis evitavam tocar no móvel, que adquiriu aura de relíquia com a morte do Papa.

Na Praça do Mercado de Wadowice, com muitos prédios da Idade Média, a aglomeração de católicos começou na noite de sábado e prosseguiu ontem pelo dia inteiro. Nas igrejas, as pessoas entravam, rezavam, acendiam velas e ficavam ali paradas, como se esperassem algo acontecer.

João Paulo II era o único tema das conversas na cidade. Ewelina Tzraska olhava para a igreja onde o menino Karol Wojtyla foi batizado.

¿ Ele é sem dúvida o nosso herói, mas acho que o mais importante é a sua mensagem, o efeito positivo que ela pode ter para pessoas das próximas gerações.

No Liceu Ogolnokstalcace, onde Wojtyla estudou, muitos alunos organizaram grupos especiais de oração em homenagem ao Pontífice.