Título: Pompa e emoção no cortejo para a basílica
Autor: Deborah Berlinck, Gina de Azevedo Marques e Monica
Fonte: O Globo, 05/04/2005, Especial, p. 1

Em solene e comovente cerimônia, o corpo de João Paulo II foi levado ontem do Palácio Apostólico para a Basílica de São Pedro, onde passou a ser exibido em público. O corpo seguiu num lento cortejo de cardeais, bispos, monges com velas nas mãos e outros religiosos. A procissão percorreu salões repletos de afrescos do palácio, desceu suas escadarias de mármore, emocionou dezenas de milhares de católicos ao passar pela Praça de São Pedro e atravessou a majestosa porta da basílica, onde o Papa será sepultado sexta-feira.

A multidão aplaudiu longamente quando o corpo do Papa chegou à praça, carregado por 12 funcionários que serviram João Paulo II no Vaticano e ladeado por guardas suíços com a tradicional farda colorida do século XVI. Um aroma de incenso tomou conta da área. No caminho para a basílica, o cortejo passou pelo exato lugar onde o Papa rezava missas para multidões ¿ inclusive aquela que inaugurou seu pontificado, em 22 de outubro de 1978, seis dias depois de eleito.

Fiéis se emocionam e caem de joelhos

Na chegada à suntuosa basílica do século XVI, o corpo foi virado de frente para a multidão, assim ficando por um minuto. Pela última vez, o Papa estava diante dos fiéis que toda semana o saudavam na praça e que ali permaneceram em vigília, rezando por ele, ao fim de sua vida. Muitos se emocionaram e caíram de joelhos rezando.

O corpo foi levado pelo corredor principal da basílica, ao som de um cântico entoado em latim por um coral, e depositado diante da tumba de São Pedro, o primeiro papa. A cerimônia era presidida pelo cardeal Eduardo Martinez Somalo, o camerlengo ¿ que administra a Igreja até o próximo Pontífice assumir o papel de líder da Igreja . Ele abençoou o corpo com água benta e incenso e rezou:

¿ Ó, Senhor, dê-lhe o descanso eterno e derrame sua luz sobre ele por toda a eternidade.

Ricamente vestidos de vermelho, os cardeais se sentaram nos bancos da frente, muitos com as mãos unidas em prece. Em seguida, eles se aproximaram do corpo, um a um.

Para que o maior número possível de peregrinos possa ver o corpo do Papa, a basílica ficará aberta dia e noite, fechando apenas de madrugada, por três horas, para limpeza, até o funeral, que tem início previsto para as 10h de sexta-feira (5h em Brasília).

O corpo será sepultado na cripta sob a basílica, que guarda vestígios da igreja do século V sobre a qual o templo foi construído. Ali estão os restos de 19 papas e quatro monarcas. Segundo Joaquín Navarro-Valls, que era porta-voz do Papa, é ¿quase certo¿ que o corpo de João Paulo II ficará na tumba onde estava o ataúde de João XXIII antes de este ser levado para exibição na basílica, depois de João Paulo II beatificá-lo, em 2000. Especulava-se que o Pontífice teria deixado uma ordem para que fosse enterrado na Polônia, sua terra natal, mas ele não manifestou esse desejo em seu testamento.

A congregação-geral dos cardeais teve ontem sua primeira reunião, para decidir procedimentos do funeral de João Paulo II. Do total de 117 cardeais, 65 permaneceram duas horas e meia na Sala Bolonha do Palácio Apostólico. A reunião foi conduzida pelo cardeal Joseph Ratzinger, decano do Colégio dos Cardeais. Entre eles pode estar o futuro papa.

Mais de 6.500 agentes de segurança atuarão

Desde sua fundação, em 754 a.C. , Roma sempre atraiu visitantes, mas o funeral de João Paulo II promete bater recordes. São esperados dois milhões de fiéis e 200 chefes de Estado e de governo, o que preocupa autoridades. O desafio é garantir hospedagem e segurança a todos. Mais de 6.500 agentes de segurança estão sendo mobilizados.

Chefes da polícia e da defesa civil se reuniram ontem para estabelecer um plano de segurança. Depois de chegarem no aeroporto da capital, as autoridades mais importantes deverão ser transportadas em helicópteros para a Cidade do Vaticano. Elas entrarão na basílica por um portão especial.

No Jubileu de 2000, Roma recebeu 25 milhões de peregrinos, mas ao longo de um ano. Os fiéis se hospedaram em albergues, casas religiosas e dormitórios universitários, que agora deverão também ser usados. A defesa civil mobilizou cinco mil voluntários, que vão colaborar com a polícia e a guarda municipal. Duzentos ônibus partiram da Polônia para Roma. Para evitar engarrafamentos, os veículos deverão ser estacionados na periferia ou em cidades próximas, e os visitantes transportados em veículos colocados à disposição pelos organizadores.