Título: América Latina alimenta debates sobre sucessão
Autor: Deborah Berlinck, Gina de Azevedo Marques e Monica
Fonte: O Globo, 05/04/2005, Especial, p. 1

Os cardeais ainda não decidiram quando será realizado o conclave, mas os debates sobre quem será o sucessor de João Paulo II já começaram e provocaram forte expectativa em países latino-americanos como Brasil, Argentina, Honduras e Colômbia. Seis latino-americanos integram a lista de possíveis sucessores do Sumo Pontífice: além do arcebispo Cláudio Hummes, de São Paulo, estão nela Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, de Tegucigalpa, Honduras; Jorge Bergoglio, de Buenos Aires, Argentina; Norberto Rivera Carrera, da Cidade do México; Dario Castrillón Hoyos, da Colômbia; e Nicolás de Jesús López Rodríguez, da República Dominicana.

Na capital argentina, as informações publicadas em jornais europeus como ¿Le Monde¿, da França, e ¿El Pais¿, da Espanha, criaram um clima de irritação entre representantes da Igreja local, que evitaram fazer qualquer comentário sobre a menção de Bergoglio como forte candidato.

¿ Não alimentamos estas versões. Muito pelo contrário, nós as minimizamos. São apenas especulações e incomodam bastante o cardeal Bergoglio. A Igreja não faz futurologia ¿ afirmou o padre Guillermo Marcó, porta-voz do Arcebispado de Buenos Aires.

Papa evitou conflito entre Argentina e Chile

O governo do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, decretou três dias de luto nacional pela morte do Papa João Paulo II e enviou o vice-presidente, Daniel Scioli, e o ministro das Relações Exteriores, Rafael Bielsa, aos funerais do Pontífice. Em seus 26 anos de papado, João Paulo II protagonizou momentos históricos na vida dos argentinos, como por exemplo em dezembro de 1978, quando conseguiu evitar um conflito bélico entre Argentina e Chile, que na época disputavam o Canal de Beagle, localizado no extremo sul do continente. Em 1982, o Sumo Pontífice ¿ que visitou a Argentina em 1982 e em 1987 ¿ atuou como mediador durante a Guerra das Malvinas.

Apesar do hermetismo da Igreja argentina, a possibilidade de que Bergoglio seja eleito sucessor de João Paulo II foi comentada por funcionários do governo Kirchner.

¿ Seria uma bênção para a Argentina que Bergoglio fosse eleito Papa ¿ assegurou o secretário de Culto do Ministério das Relações Exteriores, Guillermo Olivieri.

Em Tegucigalpa, o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga confirmou que participará dos funerais do Papa e permanecerá em Roma para o conclave por não contar com recursos econômicos suficientes para realizar duas viagens à Itália. Em entrevista coletiva na capital de seu país, o cardeal hondurenho evitou falar em candidaturas, mas disse que o novo Papa ¿deverá dar continuidade à obra de seu antecessor, sobretudo na luta para conseguir que os países ricos tratem melhor os países pobres¿.

O cardeal colombiano, que estava na cidade de Cáli quando foi informado sobre a morte do Papa, afirmou que ¿a Igreja terá um sucessor digno de João Paulo II¿, mas, como seus colegas latino-americanos, evitou falar sobre candidaturas.

Na bagagem, o carinho do México

Em 1 de abril, o cardeal mexicano Norberto Rivera Carrera embarcou rumo a Roma para acompanhar o Papa João Paulo II, já entrando na fase final de sua lenta agonia no Vaticano. Antes de partir, Carrera mostrou-se preocupado e assegurou que levaria ao Pontífice ¿o amor e o carinho dos mexicanos¿.

¿ Felizmente, os meios de comunicação, os jornalistas e os bispos não têm voto no conclave ¿ afirmou o cardeal mexicano à imprensa de seu país, antes de viajar.