Título: Eu e o Papa
Autor: Deborah Berlinck, Gina de Azevedo Marques e Monica
Fonte: O Globo, 05/04/2005, Especial, p. 1

Emerson Fittipaldi

O piloto se encontrou com o Papa uma única vez, em 26 de setembro de 1995, numa audiência concedida no próprio Vaticano. Na ocasião, o Pontífice abençoou seu casamento. ¿Fui ao encontro do Papa com minha hoje ex-mulher Teresa e meus filhos Joana e Lucca. João Paulo II abençoou nosso casamento no Vaticano. Ele era realmente um homem santo ¿ quando entrava numa sala, era possível sentir sua aura, sua energia inundando o ambiente. Já então me lembro de que o Papa estava meio adoentado, falando pouco. Eu o presenteei com meu capacete, que ele também abençoou. E senti a força de sua bênção. Dois anos depois, sofri aquele gravíssimo acidente de ultraleve e consegui sobreviver, graças a Deus. Hoje estou aqui, plenamente recuperado. Para mim, João Paulo II foi de fato um homem abençoado, e o mundo estaria muito pior sem ele. Ele mudou a face do Leste Europeu, levando à abertura de igrejas em regimes fechados. Eu acredito que Deus o protegeu. Inclusive, na ocasião da visita, tive oportunidade de conversar com os seguranças do Vaticano, que me contaram que qualquer pessoa comum teria morrido naquele atentado [ o piloto se refere ao atentado em que Ali Agca atirou em João Paulo II na Praça de São Pedro em 13 de maio de 1981 ]. Mas ele sobreviveu e, com a bênção de Deus, pôde cumprir bem sua missão na Terra.

Padre Marcelo Rossi

Encontrou-se com o Papa duas vezes, em 1997 e 2004. ¿Na primeira vez, participei de uma missa celebrada por ele no Vaticano. Como sou formado em Educação Física, reparei na coluna do Papa quando ele foi colocar a vestimenta. João Paulo II ficou rezando 20 minutos de joelhos, eu marquei. Ele devia sofrer muito. Saímos da missa e ele continuou na capela, rezando. Soube depois que ele costumava ficar pelo menos mais 20 minutos ajoelhado. Isso mostra a grandeza, o sentido do sacrifício pela devoção. Nessa visita, ele mostrou muito carinho e lucidez. O segundo encontro foi no ano passado, quando fui entregar a ele uma cópia do meu filme `Maria, Mãe do Filho de Deus¿. Ele era devoto de Maria e fiz questão de levar-lhe o filme. Mas aí já não entendi o que ele falou. Já demonstrava bastante fraqueza por causa do mal de Parkinson.¿

Tarcísio Padilha

O filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras encontrou-se com o Papa diversas vezes nos últimos dez anos. ¿Conheci o Papa três meses depois de sua eleição. Durante 10 anos, fui membro do Pontifício Conselho para a Família e, uma vez por ano, ia ao Vaticano. Na primeira vez em que me dirigi ao Papa, fiz menção de pedir sua bênção, mas ele recusou e, com aquelas mãos fortes de polonês, apertou fortemente as minhas mãos, quase as quebrou. Uma vez disse ao Papa: `O Brasil espera que o senhor o visite¿. E ele disse: `Também o Papa espera¿. Ele era uma pessoa muito acessível, que tratava a todos muito bem, do presidente dos EUA ao mendigo. Eu me sinto realmente de luto, estou muito sofrido com esta perda. A passagem mais marcante de meus inúmeros encontros com o Papa foi quando fui convidado a assistir à sua missa particular, no Vaticano. Fui o primeiro a chegar. Encontrei o secretário do Papa, Monsenhor Stanislaw Dziwisz, que me disse que o Papa estava rezando sozinho na capela. Fui até lá, ajoelhei-me e aconteceu uma coisa impressionante: passei 20 minutos vendo o Papa rezar e ele não mexeu um único músculo. Ele não estava lá.¿