Título: HOMENAGEM A JOÃO PAULO II LEVA FIDEL À MISSA
Autor:
Fonte: O Globo, 06/04/2005, O Mundo, p. 28

Líder cubano não ia à Catedral de Havana desde 1959

HAVANA. O regime cubano e a Igreja Católica parecem ter posto de lado suas diferenças por uns dias para unirem-se em reconhecimento e celebração da figura de João Paulo II, a quem Fidel Castro referiu-se como um ¿amigo inesquecível¿. O presidente cubano participou na segunda-feira à noite da missa em homenagem ao Papa, realizada na Catedral de Havana, onde sua presença não era vista desde 1959, durante o casamento de uma de suas irmãs. A missa foi realizada pelo núncio apostólico em Cuba, Luigi Bonazzi, e o arcebispo de Havana, o cardeal Jaime Ortega.

O governo de Havana decretou três dias de luto oficial, suspendeu a rodada de beisebol, o esporte nacional, as atividades festivas, e abriu a televisão estatal à Igreja, um gesto que só tem precedente na visita do Papa a Cuba, em janeiro de 1998. Fidel, no entanto, não vai participar dos funerais do Papa, no Vaticano, apenas enviará um representante.

Apesar de seu declarado anticomunismo e seu rechaço à Teologia da Libertação, que se espalhou pela América Latina, João Paulo II ganhou a simpatia do regime comunista de Cuba por ter condenado, durante sua visita à ilha, o bloqueio econômico dos EUA ao país.

O afeto do líder cubano pelo Pontífice foi expresso numa longa mensagem manuscrita no livro de condolências aberto na Nunciatura Apostólica.

¿Foram vãos os esforços de quem quis usar o teu prestígio e tua enorme autoridade espiritual contra a causa justa de nosso povo em sua luta contra o gigantesco império¿, escreveu Fidel no livro de condolências. ¿Disseste antes de regressar a Roma que as medidas econômicas restritivas impostas de fora do país foram injustas e eticamente inaceitáveis. Isto te deu para sempre a gratidão e o carinho de todos os cubanos, que hoje te rendemos o merecido triunfo. Nos dói tua partida, inesquecível amigo¿, acrescentou.

Em sua mensagem de pêsames enviada à Santa Sé, Fidel fez votos de que as relações entre o Vaticano e Cuba melhorem. Esta reação não passou despercebida pela Igreja, que agradeceu as iniciativas do governo de Fidel. As autoridades cubanas deram ao falecimento do Pontífice ¿grande relevância¿, segundo o núncio apostólico em Cuba:

¿ As decisões que foram tomadas são eloqüentes em si mesmas, falaram mais do que as palavras ¿ disse Bonazzi.

O núncio lembrou as palavras do Papa durante sua visita, em especial uma que ficou marcada na população: ¿Que Cuba se abra com todas as suas magníficas possibilidades ao mundo e que o mundo se abra a Cuba.¿

O cardeal Ortega, no entanto, lembrou que sete anos depois da visita do Papa, a Igreja continua muito limitada e muitas vezes também ignorada em Cuba. Em 2003, a Igreja criticou a detenção de 75 dissidentes e a execução de três seqüestradores.