Título: Tragédia social
Autor:
Fonte: O Globo, 07/04/2005, Opinião, p. 6

Pesquisa recentemente divulgada da Unesco revelou que, das adolescentes brasileiras que deixam a escola, 25% o fazem por estarem grávidas. É um dado que, somado a outros, como o de que de 2001 a 2003 nasceram no Brasil 82 mil crianças cujas mães tinham de 10 a 14 anos e o de que complicações decorrentes da gravidez são a terceira maior causa da morte entre adolescentes, compõe um quadro verdadeiramente trágico.

A tragédia não está apenas na evasão escolar e nas mortes que resultam da gravidez precoce. Está também na virtual perpetuação da extrema pobreza, porque essas adolescentes com filhos estão quase em sua totalidade nas classes mais carentes. A que pertencem também, em regra, mulheres de todas as idades que têm proles numerosas, não porque o desejem, mas por não dispor de meios de evitar gravidez indesejada. Seus filhos dificilmente terão condições de contribuir para a sociedade ¿ sequer para a Previdência Social , estando praticamente condenados ao trabalho informal.

É certo que a taxa de expansão demográfica tem caído ano a ano no Brasil. Mas a rigor trata-se da média entre o crescimento populacional cada vez menor, nas classes mais altas, e o contínuo e explosivo aumento entre os mais pobres. O resultado é o quadro atual de perversa concentração de renda. Drama que não será minorado enquanto as famílias carentes não dispuserem de alguma forma de controle da natalidade.

A falta de uma política ampla de planejamento familiar ¿ voluntário, porque qualquer outra hipótese é inaceitável ¿ é hoje um dos maiores obstáculos à erradicação da miséria no Brasil.