Título: EXPORTADORES PEDEM AÇÃO DO GOVERNO NO MERCADO CAMBIAL
Autor: Luciana Rodrigues e Patrícia Eloy
Fonte: O Globo, 08/04/2005, Economia, p. 19

Empresários afirmam que atual patamar do dólar reduz a competitividade internacional da indústria brasileira

SÃO PAULO. Um grupo de 23 entidades empresariais, a maioria ligada a setores exportadores, lançou ontem um manifesto em que critica a passividade do governo diante da contínua valorização do real frente ao dólar e sugere medidas para ajustar as cotações do câmbio a patamares que preservem a competitividade da indústria brasileira no comércio internacional. Lançado em evento na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o documento é assinado por entidades que reúnem empresas que, juntas, foram responsáveis por cerca de US$40 bilhões em exportações no ano passado.

¿ O ânimo exportador brasileiro hoje está abalado. Esse viés cambial é grave e o Banco Central não tem feito seu papel ¿ disse o presidente da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Roberto Gianetti da Fonseca.

Assinam o texto associações de setores da indústria como têxteis (Abit), calçados (Abicalçados), autopeças (Sindipeças), máquinas e equipamentos (Abimaq), brinquedos (Abrinq), moveleiro (Abimovel) e alimentação (Abia), entre outros.

Josué Gomes da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), alertou para o fato de que o câmbio nos níveis atuais prejudica principalmente os pequenos e médios exportadores:

¿ O limite de resistência das empresas a essa situação é tanto menor quanto menores são as empresas.

No documento, entregue ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, os empresários manifestam sua ¿imensa preocupação¿ diante da atual conjuntura cambial, que, segundo eles, coloca em risco o futuro das empresas exportadoras e os cerca de 1,2 milhão de empregos gerados pelo setor só em 2004.

Presidente da Abrinq diz que 15% dos contratos estão ameaçados

Os empresários propõem a retomada imediata dos leilões de compra de dólar e das operações de swap cambial reverso (em que, na prática, o BC compra dólares no mercado futuro), interrompidas em meados de março. Outra proposta é a criação de linhas de crédito pré-embarque (Adiantamentos de Contratos de Câmbio, ACC) em reais, e a redução para 30 dias, no máximo, do prazo dos financiamentos à importação de bens de consumo duráveis e não duráveis.

¿ Temos inflação, elevada carga tributária, logística péssima e sistemas portuários caóticos. E, à medida que os custos sobem, o câmbio se valoriza, reduzindo ainda mais a competitividade do país ¿ afirmou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedito Moreira.

Já o presidente da Abrinq, Synésio Batista Costa, disse que, se o câmbio não mudar de patamar, pelo menos 15% das exportações contratadas em 2004 não se confirmarão este ano.